São Paulo, domingo, 17 de julho de 1994
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As surpresas de julho

A sabedoria política convencional, compartilhada tanto pelos analistas como pelos próprios QGs dos candidatos, indicava que, durante o mês de julho, nenhuma grande mudança ocorreria nas intenções de voto para a Presidência.
Havia a Copa a desviar as atenções, havia pouco tempo para uma efetiva avaliação do real e, para completar, não era época do horário gratuito de propaganda eleitoral, que massifica a campanha.
No entanto, as duas pesquisas do Datafolha feitas no mês de julho desmentiram dura e inexoravelmente tais expectativas.
Luiz Inácio Lula da Silva iniciou o mês com uma vantagem sobre Fernando Henrique Cardoso de 22 pontos percentuais (41% das intenções de voto contra apenas 19%, conforme a pesquisa Datafolha feita entre 9 e 13 de junho). Agora, a diferença é de apenas nove pontos, duas vezes e meia inferior.
Essa mudança e a surpresa por ela provocada devem-se, ao menos em parte, a um fenômeno político relativamente novo e ainda de difícil absorção. Hoje, talvez pela velocidade com que se transmitem informações e pelo predomínio da imagem sobre a palavra, o eleitorado move-se muito à base de emoções, de sentimentos, que por vezes desafiam a pura racionalidade.
Parece ser o caso do crescimento de FHC e da queda concomitante de Lula. Tudo indica que se trata de uma influência direta da introdução do real. Mas a pesquisa que captou a alteração foi fechada em 13 de julho, com apenas 13 dias de real.
É muito pouco tempo para que a população possa, de fato, avaliar e racionalizar os seus efeitos. Parece claro, portanto, que a reação do eleitorado está sendo determinada mais pela sensação de que a nova moeda vai mudar a vida das pessoas do que por uma aferição palpável, estatística, racional.
Por isso mesmo é recomendável cautela ao emitir juízos definitivos sobre as tendências apontadas pelas pesquisas mais recentes.
A única coisa concreta que se pode afirmar é que a campanha entra na fase de fato decisiva. Termina hoje a Copa, a cada dia que passa há mais tempo para uma avaliação objetiva do real e vai começar, dia 2, o horário eleitoral gratuito.
Que tipo de sensações o eleitorado retirará dessa fase final e decisiva é uma incógnita, ainda que a lógica elementar indique que a disputa será muito mais acirrada do que se poderia supor há um mês.
E o equilíbrio nas pesquisas se dá apenas em torno de duas candidaturas, as de Lula e FHC. Por mais surpresas que as pesquisas de julho tenham proporcionado, elas não incluíram mudança alguma no patamar dos demais candidatos, praticamente estacionados onde estavam em maio e junho. Mantida essa tendência, a disputa eleitoral será um enredo com apenas dois protagonistas e alguns figurantes.

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