São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Os dois erros de Quércia

LUÍS NASSIF

Em geral, considerado o mais frio e tático dos políticos brasileiros, o ex-governador paulista Orestes Quércia cometeu dois deslizes fundamentais em sua carreira.
O primeiro, ao comemorar seu maior feito político: a eleição de seu sucessor, Luiz Antonio Fleury Filho. Eufórico com a demonstração de prestígio, Quércia considerou-se imune às suspeitas de que já era alvo na época e concedeu entrevistas um tanto acintosas, abrindo o jogo em relação ao seu patrimônio.
A partir daí, o que era mais uma questão pessoal com alguns órgãos, tornou-se prova de Olimpíadas para o conjunto de jornais, um desafio que concederia ao vencedor medalha de ouro.
Cometeram-se muitos abusos nessa caçada. Mas houve levantamentos judiciosos que resultaram em acusações difíceis de serem respondidas. E, mais do que isso, havia a realidade palpável de um enorme patrimônio que dificilmente seria acumulado por vias normais.
Auditorias
Um ano e meio atrás a coluna escreveu que se o PMDB não obrigasse Quércia a dar explicações claras sobre seu enriquecimento, morreria abraçado ao seu candidato.
Na ocasião, Quércia entrou em contato com a coluna, informando ter em mãos relatório da Receita que explicava tudo. Não explicava. Apenas constatava que os levantamentos fiscais e contáveis estavam corretos. Ou seja: que Quércia tinha um bom contador.
O colunista explicou isso ao enviado de Quércia e sugeriu que a única maneira de explicar-se perante a opinião pública seria contratar uma auditoria independente, que apurasse o crescimento patrimonial do candidato do ponto de vista econômico-financeiro.
Foi contratada a Trevisan. Mas as conclusões, publicadas em todos os jornais, também nada significavam. O candidato encomendara novamente um levantamento fiscal e contábil.
Por falta desses argumentos, na segunda-feira, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, Quércia cometeu seu segundo e fatal escorregão, ao perder a cabeça com uma pergunta formulada de maneira firme, porém civilizada, pelo jornalista Ruy Xavier, acerca de seu enriquecimento.
Era óbvio que esse tema o acompanharia por toda a campanha, como uma alma penada.
O que é espantoso é a maneira como um partido político, o maior do país, deixou-se levar para o sacrifício dessa maneira.
FHC clareia
Com todas as ressalvas de que discurso é discurso e ação é ação, não há como deixar de reconhecer que, na palestra para a Associação de Funcionários do Banco do Brasil, FHC colocou pela primeira vez, de maneira incisiva, sua posição em relação a uma tema político de relevo: o corporativismo das estatais.
Mas errou ao supor que recursos de fundos de pensão devam ser livremente utilizados pelo governo, por ser dinheiro público. Deve-se disciplinar os fundos, impedir abusos, profissionalizá-los. O governo pode limitar os benefícios na hora do pagamento ao fundo. Depois que entrou no caixa, o dinheiro tem que ser aplicado tecnicamente para garantir a aposentadoria dos associados.

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