São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Final do Mundial prova que Deus é 'noveleiro'

DUDA MENDONÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Que Deus é brasileiro, todo mundo já sabe. Eu vou mais adiante: não só é brasileiro, como também é "noveleiro".
Como se já fossem poucas as emoções neste pedaço do mundo, tudo por aqui acaba de um jeito diferente, emocional, teatral mesmo.
Só no Brasil, depois de mais de 20 anos de ditadura, um presidente civil é eleito e morre exatamente no dia da sua posse. Ulysses some no mar e seu corpo nunca aparece. Collor, eleito de forma sensacional, cai de forma não menos sensacional, traído pelo irmão (esse final Deus não se lembrou, mas já havia dado a outra novela, no início do mundo). Ayrton Senna, o maior ídolo desta década, morre, inexplicavelmente, numa capotagem espetacular, ao vivo e em cores, para todo o Brasil assistir e sofrer.
Haja lágrimas. Haja coração.
Eu esperei a Copa. Se estivesse certo e Deus fosse mesmo "noveleiro", desta vez o Brasil iria ganhar, mas jamais seria numa final com a Suécia ou com a Bulgária. Isso seria muito simples e sem nenhuma criatividade.
Acertei na mosca. Tudo foi escrito por ele, cuidadosamente, capítulo por capítulo.
A Itália foi chegando de mansinho, para criar emoção. A Argentina ficou fora do script. Acho inclusive que o Maradona foi tirado às pressas porque poderia comprometer o final da novela e Deus não queria surpresas. A Alemanha participou da trama, mas, coitada, estava fora dos últimos capítulos.
O elenco foi escolhido pessoalmente por Deus. Romário desde o início teria o papel principal. E tenho absoluta certeza: era o único que já sabia o final da novela.
Lembra daqueles gols perdidos? Fazia parte da trama, para dar mais suspense aos últimos capítulos. Tanto que, após cada jogada, Romário fazia um maroto sinal da cruz, uma espécie de código entre ele e o autor.
Como todo enredo tem que ter um vilão, o escolhido foi o Roberto Baggio, que ainda relutou em desempenhar o seu papel, inventou contusão, não queria gravar, mas não teve jeito: roteiro é roteiro e ninguém foge dele.
Como toda novela que se preze, no último capítulo não faltaram surpresas, lágrimas, suspense e muita emoção. Uma novela perfeita. E como o Criador é brasileiro, com um lindo final feliz.

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