São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 1994
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Boicote a São Paulo não surpreende

ALBERTO HELENA JR.

Em São Paulo
Chego a São Paulo e só escuto uma pergunta: afinal, por que a seleção não veio festejar em terras bandeirantes? O prefeito vocifera e os cartolas dizem que não foi de propósito, simplesmente aconteceu.
Em se tratando de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, pura e exclusivamente por ser genro de João Havelange, presidente da Fifa, pode ter sido mesmo uma das duas coisas. Ou as duas juntas, quem sabe.
Isso porque seu destempero contra a imprensa paulista é de conhecimento público. Lá em Los Gatos, ele ficava pelos cantos resmungando impropérios contra os jornalistas daqui, para os jornalistas cariocas.
Acostumado à bajulação fácil, não se conforma com as críticas eventuais à sua gestão. Chegou ao extremo de, na noite da vitória, desempenhar um papel grotesco diante de todos os presentes, investindo contra os jornalistas paulistas, aos gritos engrolados de "vocês vão ter que me aturar", coisas desse tipo.
Mas também pode ter sido por pura incompetência dos responsáveis pela programação festiva da seleção que nossos craques não vieram desfilar em carro aberto pelas ruas de São Paulo, como aconteceu em 58, 62 e 70. Pois esse é o outro traço marcante da gestão Ricardo Teixeira à frente da CBF.
Por exemplo: na entrevista exclusiva que Parreira concedeu à Folha em Los Gatos, o técnico foi polido ao dizer que recebeu todo o apoio da CBF. Mas foi enfático, ao dizer que seu time praticava um futebol opaco porque não teve tempo de treinamento adequado, durante os três anos em que esteve dirigindo nosso time.
Ora, quem é o responsável pelo calendário do futebol brasileiro e da seleção, por consequência? A CBF, dirigida por Ricardo Teixeira. Logo, as críticas que desabaram sobre Parreira, em última análise, atingem a causa primordial. Isto é, Ricardo Teixeira.
Portanto, se alguém agiu contra a seleção, criando obstáculos para a conquista do tri, se alguém foi antipatriótico, quinta-coluna ou quaisquer dessas bobagens que correm por aí, esse alguém não foi da imprensa, nem de São Paulo, nem dos quintos dos infernos.
Esse alguém foi Ricardo Teixeira, que hoje posa de campeão e priva os milhões de brasileiros que vivem em São Paulo de participarem da festa que é só deles –dos jogadores e da comissão técnica. Nem da imprensa, muito menos de Ricardo Teixeira.

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