São Paulo, domingo, 24 de julho de 1994 |
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Itamar opta por megaobra e condena açudes
SÔNIA MOSSRI
É o projeto de bombeamento das águas do rio São Francisco, com o objetivo de irrigar terras nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. O custo total do programa de irrigação equivale ao valor de construção da usina nuclear de Angra 1, em Angra dos Reis (RJ). A iniciativa é a única obra de grande vulto do governo Itamar Franco e coincide com o período eleitoral em que se define a sucessão presidencial. A justificativa do Ministério da Integração Regional para o projeto é que os açudes não são suficientes para atender à necessidade de água no Nordeste. O secretário de Irrigação do ministério, Abelírio Vasconcelos Rocha, afirma que o projeto do rio São Francisco poderá irrigar 1,2 milhão de hectares nos quatro Estados. Açudes Já os 23 açudes do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca), em obras, diz Rocha, irrigariam uma área de 44.670 hectares no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. O ministro da Integração Regional, Aluízio Alves, diz ainda que as secas são prolongadas na região e, por isso mesmo, as chuvas não garantem o abastecimento de água dos açudes. Itamar determinou que o Banco do Brasil monte esquema para captação de US$ 250 milhões no exterior, para cobrir os custos das obras em 94. A decisão governamental de levar à frente o projeto, no entanto, contou com a oposição do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero. A necessidade de usar os poucos recursos em outras prioridades, como recuperação de rodovias federais, e a inconveniência de criar um projeto no final de governo são os principais argumentos de Ricupero para se contrapor ao projeto. O ministro da Fazenda não conseguiu convencer Itamar. "Se fosse assim, não faria o Plano Real", disse o presidente ao ministro da Fazenda, durante reunião no Palácio do Planalto para discutir o projeto de irrigação. Ricupero tem na estatal Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) uma aliada. Técnicos da empresa consideram qua o megaprojeto vai reduzir o petencial hidrelétrico do rio. As obras vão ser iniciadas em agosto, com batalhões de Engenharia do Exército, no município de Cabrobó (PE), sem o projeto de engenharia básica. O secretário de Irrigação disse à Folha que existe um pré-projeto de engenharia feito em 82, no governo João Baptista Figueiredo, por um consórcio liderado pela Noronha Engenharia. Essa empresa é uma das que concorrem à licitação. "No Brasil, existe um grande preconceito em relação ao Nordeste e ao semi-árido", disse Rocha. Las Vegas "O norte-americano, por exemplo, desenvolveu o semi-árido e criou um grande cabaré, que é Las Vegas (cidade americana situada no deserto de Nevada e dedicada aos cassinos)", disse o secretário de Irrigação. Rocha afirma que o projeto de transposição das águas do rio de São Francisco beneficiará 8 milhões de pessoas nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. A primeira etapa do projeto, avaliada em US$ 600 milhões, deverá estar pronta em julho de 95, irrigando 116 mil hectares. O empréstimo do Banco do Brasil é a alternativa para a ausência de recursos no Orçamento de 94, ainda em tramitação no Congresso. Texto Anterior: Veto lembra a Lei Falcão Próximo Texto: Projeto deverá atender a quatro Estados Índice |
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