São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC critica vice em SP e recua em Brasília

EMANUEL NERI ; GABRIELA WOLTHERS
DA REPORTAGEM LOCAL

GABRIELA WOLTHERS
O candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso, condenou ontem, em São Paulo, a aposentadoria precoce de seu vice, senador Guilherme Palmeira (PFL-AL), e depois recuou da crítica em entrevista em Brasília.
"Eu não faria isso", disse, em São Paulo, referindo-se à aposentadoria de Palmeira.
Mais tarde, em Brasília, FHC negou que tivesse reprovado o pedido de aposentadoria de seu vice. Afirmação e desmentido foram gravados pela Folha.
Palmeira recebe aposentadoria integral como servidor do Senado, mesmo tendo exercido o cargo por apenas seis anos. Ganha R$ 1,4 mil por mês.
O Senado considerou como tempo de serviço os 27 anos em que Palmeira esteve licenciado para exercer mandatos eletivos, o que é permitido pela Constituição.
O vice de FHC passou a ser um foco de tensão no PSDB.
O colunista Janio de Freitas, membro do Conselho Editorial da Folha, revelou ontem que dois nomes já estão sendo cogitados para substituir o vice de FHC.
"Eu não comento este cidadão. Em geral, ele não tem nada a ver sobre o que eu penso", afirmou FHC sobre Janio de Freitas.
Deus
Outro assunto incômodo para FHC –o de sua crença em Deus- também voltou a ser abordado na entrevista dada em São Paulo.
FHC falava sobre o debate de hoje na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e um repórter indagou o que ele responderia se d. Luciano Mendes, presidente do órgão, perguntasse se ele acredita em Deus.
"É fácil. Ele (d. Luciano) sabe. Não há problema", afirmou FHC. "Eu sempre disse que uma questão dessa natureza a gente tem de dizer ao confessor. Todo mundo sabe que eu acredito em Deus".
Aposentadoria
O assunto que mais preocupou FHC foi a aposentadoria de seu vice. Disse em São Paulo: "Deve ter sido legal. Milhões de brasileiros... Eu não faria isso".
Em seguida, falou de sua própria aposentadoria compulsória, determinada pelo regime militar, em 1969: "Tinha 37 anos e me puseram para fora (do cargo de professor da Universidade de São Paulo)".
Na sequência, foi indagado sobre os motivos de sua crítica à aposentadoria de Palmeira. O candidato então negou o que acabara de declarar.
"Disse que, no meu caso, quando fui aposentado, não reivindicaria. Eu fui posto para fora", declarou o tucano.
Segue abaixo a entrevista que FHC concedeu à reportagem da Folha em Brasília, em que nega o conteúdo da entrevista dada em São Paulo.
Folha – O sr. falou, em São Paulo, que é contra a aposentadoria de Palmeira...
FHC - Eu falei sobre a minha aposentadoria. Eu falei que eu fui aposentado quando tinha 37 anos pelos militares. Não falei nada dele (Palmeira). E tem outra coisa. Certamente, a aposentadoria foi dentro da lei.
Folha - Mesmo sendo dentro da lei, o senhor considera correto?
FHC - Se é da lei, é da lei. Cada um julga como quer.
Folha - Mas não se parece com o caso Bisol, que era legal, mas foi considerado imoral?
FHC - Mas eu não critiquei o Bisol. Quem criticou foi o PT.
Folha - São Paulo passou a seguinte frase que o senhor teria falado lá: 'Eu não faria isso'.
FHC - Eu não disse isso.
Folha - Mas está gravado.
FHC - Não disse isso, eu desmenti lá na hora. A Folha está ficando perigosa. Eu desmenti lá na hora, quando alguém deu esta interpretação. Eu disse: 'não é isso'. Eu estava falando sobre a minha aposentadoria.
Folha - Sobre que aposentadoria o senhor está falando?.
FHC - Sobre a minha, quando fui aposentado em 1969 pelos militares. Eles (os repórteres) perguntaram: 'O senhor não acha que seis anos é muito pouco?'. E eu disse: 'Eu fui com 13 anos pela Lei da Anistia'.

Texto Anterior: NÃO SE DEIXE ENGANAR
Próximo Texto: Tucano já se desmentiu antes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.