São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Drogado deve ganhar seringa, diz sociólogo

Para ele, medida reduz avanço do HIV

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A única forma de conter a epidemia de Aids entre os que usam drogas é a implantação de programas de troca de seringa pelos governos.
Esta é a tese do sociólogo norte-americano Samuel Friedman, 52, que está no Brasil para assessorar projetos de prevenção entre dependentes de drogas. Segundo ele, os programas reduzem a um terço, pelo menos, o número de infectados.
Em mais de 60 países do mundo já há portadores do HIV contaminados pelo uso de drogas injetáveis. Em Nova York, metade dos 200 mil dependentes que se injetam está infectada.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a droga se transformou na ponte de transmissão para outros grupos.
Friedman é assessor da Organização Mundial da Saúde e pesquisador do Instituto Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa dos EUA. Já acompanhou estudos em vários países do mundo e coordenou projetos em Nova York.
Segundo ele, os programas de troca de seringa devem ser vistos como questão mínima de saúde pública. "Governos e instituições de saúde que resistem a tais programas podem ser acionados na Justiça por omissão de socorro."
Para Friedman, os únicos programas de prevenção que tiveram sucesso entre usuários de droga foram os de troca de seringa. Eles existem nos EUA, Canadá, Europa, Austrália e no Nepal.
"Uma pesquisa feita em New Haven (Connecticut), utilizando modelo matemático, mostrou que os programas reduzem a contaminação para um terço", diz Friedman.
Em Portland (Oregon), Seattle e Tacoma (Washington), onde se implantaram programas de troca, o número de usuários de drogas infectados está abaixo de 5%. Em Chicaco e Baltimore é de 30%. Em Nova York, 50%.
A situação é ainda mais grave em países da Ásia. Em Burma, estudos mostram que em um ano 90% dos usuários estudados se contaminaram.
Friedman diz não acreditar que a troca de seringas possa aumentar o número de dependentes ou o consumo da droga. "Não notamos isso em nenhum lugar do mundo."
Também não crê que a política de repressão às drogas possa prejudicar os programas. "Nos EUA, mesmo quando os programas eram ilegais, os policiais eram sensíveis aos projetos e colaboravam."
Friedman diz que se deve incentivar nos países em desenvolvimento a formação de grupos de usuários de drogas. No Brasil eles não existem.
"Nos EUA, eles estão se organizando como estruturas contra a Aids e trabalhando na redução dos riscos entre outros usuários. São ouvidos e consultados por profissionais de saúde, pesquisadores e políticos."

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