São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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O seleção tetracampeã não deixa saudades

UBIRATAN BRASIL
DA REPORTAGEM LOCAL

Tetracampeã, a seleção brasileira não deixou saudades nos Estados Unidos. Terminada a Copa do Mundo, as precárias condições de trabalho fornecidas pela equipe de Parreira transformaram o final do Mundial em alívio para toda a imprensa estrangeira.
A vitória do Brasil não foi contestada –apesar do temor tático de Carlos Alberto Parreira, que exagerou em sua tese (até certo ponto correta) de que todo time deve saber também se defender.
Os jornais americanos e os europeus em geral (os franceses, principalmente) creditaram valor à conquista do título, ainda que por uma forma tão desigual na medição de forças como é a decisão por pênaltis (que provocou uma real tensão apenas em brasileiros e italianos) .
O problema estava em acompanhar a seleção brasileira. A diferença de idiomas não era o principal –outras estrelas, como Maradona, também não se arriscavam a falar em inglês, língua-padrão em todas as competições. Um exército de brasileiros que moram nos Estados Unidos e que trabalharam como voluntários es esforçou ativamente na tentativa de traduzir perguntas e respostas.
Tampouco as respostas-padrão, que se ouviram muito de jogadores brasileiros, não eram relevantes: o meia sueco Thomas Brolin repetiu, inúmeras vezes, expressões que se assemelham ao nosso "colocar o coração na ponta da chuteira para conseguir a vitória".
A dificuldade estava em trabalhar de forma civilizada. Os jornalistas estrangeiros não acreditavam na forma selvagem em que ocorriam os períodos de entrevistas. O batalhão de repórteres brasileiros que já se acostumou a cotoveladas para arrancar uma declaração provocava arrepios, especialmente nos americanos.
Um repórter do "The New York Times", um dos mais influentes jornais, baseado em Los Angeles, sofreu o problema em diversos estágios. Em seu primeiro dia de cobertura da seleção brasileira, já na semifinal, esperou comodamente por uma organizada entrevista coletiva, como acontecia na seleção alemã, equipe que vinha acompanhando.
Não fosse a ajuda de jornalistas brasileiros, que lhe passaram informações básicas, não teria o que escrever, assombrado com a batalha em que se transformava cada brecha para imprensa.
No segundo dia, já se sentindo habituado ao esquema brasileiro, conseguiu uma brecha próximo a Romário, na acirrada disputa com gravadores e microfones. Depois de esperar pelas entrevistas aos brasileiros, as quais não entendeu nada, tomou ar para fazer uma pergunta, auxiliado por um voluntário, quando viu o jogador virar as costas, encerrando seu tempo. Novamente teve que rogar por notícias dos colegas brasileiros.
Depois da final, Brasil tetracampeão, a espera era pelo técnico Carlos Alberto Parreira. Afinal, tão criticado pela imprensa brasileira, era o momento ideal para desabafar, com testemunhas do mundo inteiro à sua disposição. Parreira, porém, só fez elogios difusos e disparou comentários óbvios do tipo "Brasil e Itália disputavam o tetracampeonato", que provocaram gargalhadas.
Em prática novamente a caça por jornalistas brasileiros. "Não sei como vocês conseguem as notícias", comentou um alemão a um repórter de rádio, que lhe passara informações do goleiro Taffarel. A sensação de desforra só veio com a volta da seleção ao Brasil: a pesadíssima bagagem trazida pelos jogadores, dirigentes e os inúmeros convidados da CBF (e o consequente escândalo alfandegário) foi encarada com ironia, como mais uma batida de samba do criolo doido, que afinal já contagiava o país.

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