São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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'O Beijo 2348/72' faz rir da burocracia

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: O Beijo 2348/72
Produção: Brasil, 1990
Direção: Walter Rogério
Elenco: Chiquinho Brandão, Maitê Proença, Fernanda Torres
Quando: A Folha distribui 50 convites para a pré-estréia hoje, às 21h, no Cinesesc (r. Augusta, 2.075). Os interessados podem retirar os convites a partir das 13h na portaria do jornal (alameda Barão de Limeira, 425, região central)

Podia-se esperar o pior. "O Beijo" foi projetado e rodado ainda nos tempos da Embrafilme. Com a liquidação da empresa, em 1990, ficou sem distribuição.
Nessas condições, podia-se esperar que o longa de estréia de Walter Rogério tivesse envelhecido (para não ir longe, basta lembrar que o ator principal, Chiquinho Brandão, morreu em 1990).
Com tudo isso contra si, "O Beijo" reserva ao espectador uma série de surpresas. O primeiro é descobrir, logo nos títulos de abertura, que se trata de uma comédia (o nome não deixa imaginar que tipo de filme se vai ver, o que é um defeito grave). Uma "comédia burocrática", como diz o letreiro, baseada em um fato trabalhista, a saber: um operário de tecelagem (Brandão) é despedido com justa causa por ter beijado uma funcionária (Maitê Proença) durante o expediente.
O caso vira uma causa trabalhista, e o filme se arma em torno desses dois momentos: a vida na fábrica e adjacências, de um lado, e os julgamentos em várias instâncias, de outro.
"O Beijo" não é um filme perfeito, embora a estrutura narrativa esteja muito bem resolvida. Seria melhor caso Rogério investisse de uma vez em Chiquinho Brandão. Sempre que investe em Brandão, temos um caso raro de comédia brasileira que não passa pela tradição da chanchada, nem por certas experiências mais recentes, supostamente sofisticadas.
Basta tomar o momento em que ele paquera uma prostituta, dublando uma música de Nelson Gonçalves e dançando: é o momento mais audaz e feliz do filme.
A parte mais fraca diz respeito a Fernanda Torres, como Claudete: na tentativa de fazer um tipo humorístico, ela invade o terreno do histrionismo com frequência. Maitê Proença, ao contrário, tem uma atuação mais modesta e eficaz.
Se o fraco do filme são as trucagens excessivas (como a sequência final, meio despropositada), um dos aspectos fortes é o som. Walter Rogério é um exímio técnico de som. Isso garante a qualidade técnica, o que é importante.
É claro, seria possível reprovar ainda isso e aquilo a "O Beijo". Mas desde que se passe da atividade crítica ao trabalho de bedel. No geral, é uma bela estréia, uma comédia nada burocrática e um filme que se assiste com prazer.

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