São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Ilha de Wight foi Woodstock inglês e reuniu platéia de 200 mil pessoas

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Realizado duas semanas após o final do Festival de Woodstock, o Festival da Ilha de Wight não ficou atrás do seu congênere americano.
Foram quatro dias -entre 27 e 30 de agosto de 1969- em que 200 mil pessoas se amontoaram diante de um palco montado na ilha, no canal da Mancha, costa sul da cidade britânica de Hampshire.
Com as melhores atrações se apresentando em Woodstock, os ingleses tiveram que se contentar com um festival que hoje é mais lembrado por ter marcado a volta aos palcos do cantor e compositor norte-americano Bob Dylan.
Dylan morava próximo à fazenda onde aconteceu Woodstock. Os ingleses conseguiram tirar Dylan de casa com um argumento irrefutável. Os cachês no festival americano foram quase simbólicos. Dylan recebeu US$ 84 mil para tocar em Wight.
Afastado desde 1966 por ter sofrido um acidente de moto, Dylan decepcionou uma platéia que queria o peso e ritmo do rock eletrificado. Durante uma hora, ele cantou 14 canções folk tradicionalistas acompanhado basicamente por violões.
Diferentemente de Woodstock, Wight não precisou esperar 25 anos para conhecer a sua segunda edição. No final de agosto de 1970, os ingleses organizaram aquela que para eles foi a mais gigantesca manifestação de música popular de todos os tempos.
Sem concorrentes do mesmo porte acontecendo simultaneamente, a segunda versão do festival conseguiu reunir 400 mil pessoas na platéia.
Números como 1,5 milhão de ovos e 580 mil latas de refrigerantes consumidos foram utilizados pelos organizadores para comprovar a grandiosidade do evento.
Mais importantes que os dados estatísticos foram as atrações musicais. Aproveitando a apatia americana, os ingleses trouxeram Jimi Hendrix, Joan Baez, Leonard Cohen, o grupo Ten Years After e o trompetista Miles Davis.
Miles aproveitou o festival para matar dois coelhos com apenas uma cajadada. Enquanto popularizava o jazz, acostumava os ouvidos roqueiros com fraseados e harmonizações mais sofisticadas.
As centenas de milhares de pessoas que acompanharam as duas edições do Festival da lha de Wight assustaram, mas não deram muito trabalho aos 150 policiais desarmados responsáveis pela segurança na ilha.
O maior incidente foi a invasão de público ocorrida na segunda versão do festival. Das 400 mil pessoas presentes, apenas 130 mil pagaram pelo ingresso de US$ 64, válido para todos os dias.
Os invasores eram incentivados por um grupo de anarquistas franceses instalados em um morro ao lado do local de apresentações. Por meio de alto-falantes, eles gritavam slogans como "O festival é do povo. Ninguém deve pagar". A polícia não interveio.

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