São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 1994
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Ingenuidade do Woodstock de 69 é mito

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
EDITOR-CHEFE DO NP

Prepare-se porque vai ser o maior "chororô" nostálgico. Vão dizer que essa segunda versão do Festival de Woodstock é uma picaretagem mercantilista, que bom mesmo foi o original. Que em 1969 havia paz, amor e maconha e que agora só existe o dinheiro.
Conversa fiada, lógico.
Como o de hoje, o Woodstock de 1969 foi bolado para dar grana. Três empresários perceberam que os hippies, apesar de tanto fumo e ácido borbulhando em seus neurônios, mantinham coordenação motora suficiente para puxar valiosas notinhas verdes do bolso da calça desbotada.
Melhor: os tais "filhos das flores" eram, na verdade, filhos de pais ricos.
A entrada não era nada barata para a época, variando de US$ 5 a US$ 18. O problema é que havia mais hippies no mundo que os próprios organizadores imaginavam. Resultado: ninguém pagou.
Com meio milhão de cabeludos na porta de entrada, não houve cerca que resistisse. Veio tudo abaixo. O festival de 1969 virou "de graça".
Woodstock, reza o lugar-comum, teria sido o evento que mesmo sem querer transformou o rock em "business", que buscava celebrar a ingenuidade mas acabou sendo a gênese da corrupção da contracultura pelo monstro capitalista.
Não foi bem assim.
Pelo menos dois anos antes de Woodstock, as gravadoras já punham em curso a cooptação da cultura suposta "alternativa".
Em 1967, revistas publicavam anúncios cínicos como "A Revolução está na CBS" (CBS é a multinacional do disco).
Publicações "alternativas", caso da então nascente "Rolling Stone", sobreviviam graças a toneladas de anúncios...justamente das grandes gravadoras.
A pureza de Woodstock é um mito. O que havia lá era uma venda de mercadoria, como qualquer outra. Ainda que essa mercadoria se chamasse sinceridade.

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