São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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'Beijo' investe no humor popular

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Beijo 2348/72
Produção: Brasil, 1990
Direção: Walter Rogério
Elenco: Chiquinho Brandão, Maitê Proença, Fernanda Torres
Onde: a partir de hoje no Cinesesc

A idéia, inspirada em fato verídico, é simples e original: operário beija operária na tecelagem onde trabalham e ambos são demitidos por "justa causa"; segue-se um kafkiano processo trabalhista.
No filme, o operário é um matuto desajeitado (Chiquinho Brandão); a operária, uma bela princesa de periferia (Maitê Proença), casada com um valentão. Para complicar, há uma colega enciumada (Fernanda Torres) e um chefe recalcado e caxias (Ary Fontoura).
O "Beijo" contém praticamente dois filmes: uma comédia popular sobre esse "pentágono amoroso", e uma fábula expressionista sobre o processo na Justiça do Trabalho. Esta última é dispensável: o que conta mesmo é o humor inspirado que se desencadeia quando Brandão está em cena.
A grande façanha do diretor Walter Rogério foi equilibrar muito bem o realismo (a linha de produção, os ônibus lotados) e a fantasia (os sonhos, os números musicais), para realçar a tensão essencial que move o filme: o embate entre o princípio da realidade e o do prazer. O trabalho e o beijo.
Brinca-se o tempo todo com os clichês românticos e eróticos do cinema. Numa cena, os dois operários amantes trocam carícias no pátio da fábrica. O erotismo vai num crescendo de selvageria que termina em sangue e mutilações.
Nos cinco anos que nos separam da filmagem do "Beijo" não apenas morreu seu talentoso protagonista, Chiquinho Brandão. Acabou também o público popular a quem o filme parece endereçado. As platéias não-intelectuais que poderiam se deleitar com seu humor extravagante não existem mais, ou estão embrutecidas pela avalanche de porrada e pornografia dos últimos anos. Triste país.

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