São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994 |
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Saura faz 'Thelma e Louise' de uma nota só
FERNANDA SCALZO
Produção: Espanha, 1993 Direção: Carlos Saura Elenco: Antonio Banderas e Francesca Neri Estréia: hoje nos cines Paulista 4 e Calcenter 1 "Dispara!", novo filme do diretor espanhol Carlos Saura, parece um "Thelma e Louise" de uma nota só. Primeiro porque a heroína perseguida é uma só, Anna (Francesca Neri). E também porque o filme é bastante monocórdio: não tem a graça e os momentos bem-humorados da obra de Ridley Scott, para quebrar a tensão. A pistoleira de Saura trabalha como atiradora num circo. Vai assistir ao espetáculo e entrevistá-la o jornalista Marcos (Antonio Banderas), que até então destestava e se deprimia com o circo. Os dois iniciam um romance, mas ao mesmo tempo, por causa de um estupro, como em "Thelma e Louise", Anna entra em seu turbilhão de desgraças com causa e efeito. Com o circo, Carlos Saura continua a rondar seu universo de ciganos (que aparece nos seus filmes como "Amor Bruxo", "Carmen", "Bodas de Sangue"). Mas está um pouco mais urbano, ainda que siga filmando na periferia. "Dispara!" tem um cenário desértico, meio de ferro-velho, habitado por tipos esquecidos pelo mundo. O personagem de Antonio Banderas dá o contraponto, da "atualidade", como jornalista. Mas ele também é um triste e esse tom baixo, representado na decadência do circo, percorre o filme. A maneira como Anna, a atiradora, vai disparando sua raiva pelo filme é pesada –nada a ver com a excitação quase juvenil das heroínas de "Thelma e Louise". Anna se arrasta pelas estradas e não voa para seu destino. O filme de Saura segue lento, como de resto todos os outros que já fez. Mas "Dispara!" incomoda porque, afinal, é um filme de ação, com tiros e perseguições. E as personagens nem são tão interessantes –como a Ana de seu "Cria Cuervos"– para compensar essa "câmera lenta". Mas para quem gosta de sofrer, "Dispara!" tem a competência da direção consagrada de Carlos Saura, e atuações boas dos belos Antonio Banderas e Francesca Neri. Falta uma injeção de ânimo no universo do diretor espanhol. A mesma que o circo merece. Texto Anterior: Festival de Veneza anuncia concorrentes Próximo Texto: 'Beijo' investe no humor popular Índice |
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