São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 1994
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ONGs são mais rápidas do que os governos

GEORGINA HIGUERAS
DO "EL PAÍS"

A tragédia de Ruanda voltou a destacar o trabalho das organizações não governamentais (ONG), capazes de penetrar mais e chegar mais rápido que os governos aos locais em crise.
Um número cada vez maior de cidadãos faz doações a estas organizações, e os governos viram-se forçados a mudar a atitude quase hostil em relação a elas na década passada.
"Os governos esperam que a situação seja completamente catastrófica antes de agir, e então encontram muitas dificuldades, que somos capazes de resolver mais facilmente porque já trabalhamos em silêncio nos países afetados há muito tempo", afirma Enrique Albizu, presidente da Medicus Mundi - Espanha.
A dimensão da catástrofe em Ruanda obrigou a Intermón (ONG fundada em 56, na Espanha) a adiar os projetos de desenvolvimento que realizava no país; nos últimos dois meses ela tem se dedicado a distribuir água, roupas e alimentos no campo de Benako (Tanzânia), onde há 300 mil refugiados ruandeses, e nos campos do Zaire, onde opera em associação com a Vetermon.
As ONGs têm cada vez mais financiamento governamental porque a cada dia que passa seus serviços são mais necessários aos governos. Mas isso contribui também para que algumas delas cresçam descontroladamente e se burocratizem, perdendo eficiência.
A Agencia Espa¤ola de Cooperación Internacional (Aeci), do Ministério do Exterior da Espanha, reuniu-se com os dirigentes de 13 organizações e com a coordenação das ONGs para o desenvolvimento, a fim de estudar qual a melhor forma de empregar os US$ 7,6 milhões que o governo espanhol destinou a socorrer Ruanda.
Para Camilo Tomé, vice-presidente da Médicos do Mundo, "esta é a primeira vez que o governo espanhol põe à disposição das ONGs todos os meios necessários a realizar uma missão humanitária, o que significa um importante avanço rumo a uma cooperação mais estreita".
"O problema da ONU é que se mobiliza muito rapidamente quando há interesses econômicos estratégicos envolvidos e não o faz com tanta celeridade quando trata-se de salvar vidas humanas, como em Ruanda", diz o secretário-geral da Cáritas, Palo Martín Calderón.
A Cruz Vermelha Internacional atende 2 milhões de ruandeses e distribui diariamente comida para 900 mil pessoas.
Milhares de espanhóis lotam as sedes de ONGs para se oferecerem como voluntários em Ruanda.
"Não damos conta de atendê-los. A resposta ao pedido de ajuda foi gigantesca", diz Virginia de la Guardia, porta-voz da Médicos Sem Fronteiras.
A maioria dos voluntários são jovens. Mas, comenta Enrique Albizu, presidente da Medicus Mundi, "é precisamente nas situações de emergência que necessitamos de gente mais especializada".
Pablo Martín, secretário-geral da Cáritas, diz que "devido ao forte impacto que a presença da morte causa sobre uma pessoa", é preferível que os voluntários enviados a Ruanda não sejam muito jovens.

Tradução de Paulo Migliacci

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