São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
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Chatô e o novo rei

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Chatô, Rei do Brasil" trata superficialmente –para dizer o menos– de um acontecimento nebuloso e crucial na história da televisão e da política no Brasil: a substituição da Tupi pela Globo, como a maior rede de televisão, e a substituição de Assis Chateaubriand por Roberto Marinho, como o grande eleitor. Como o rei do Brasil.
O conhecido acordo Globo/ Time-Life é o que recebe um tratamento mais extensivo no episódio. A biografia, editada pela Companhia das Letras, dá trechos de um relatório sigiloso de Carlos Lacerda, depoimentos de Edmundo Monteiro e de Gilberto Chateaubriand, mais as colunas algo folclóricas do próprio Assis Chateaubriand.
O texto de Fernando Morais, guiado talvez pelo chiste das colunas, leva tudo na brincadeira. Fala em "conspiração", mas com ironia, até sarcasmo. Por exemplo, na transferência do Repórter Esso, embrião do Jornal Nacional, da Tupi para a Globo. Decisão seguida de outras, de corte na publicidade.
Mas nada disso tinha maior novidade, mesmo. O que tinha acabou por receber não mais do que um curto parágrafo, nas mais de 700 páginas do livro –é exatamente o que retrata o instante da sucessão na política e na televisão. É o único em que o biógrafo chega perto de aceitar, afinal, a possibilidade de Chateaubriand estar certo:
– No começo de 1967, quando faltavam quinze dias para transferir o governo para o marechal Costa e Silva, o ainda presidente Castelo Branco baixou o decreto-lei nº 236, que parecia redigido de encomenda para confirmar as suspeitas de Chateaubriand, de que de fato tudo não passara de uma conjura para destruí-lo. No artigo 12 do decreto, Castelo limitou a cinco o número de estações de televisão que poderiam pertencer a um mesmo grupo privado (três estações regionais e duas nacionais). Naquela data começava a desmoronar a rede Associada de televisão, cujo prestígio e poder seriam ocupados, anos depois, exatamente pela Rede Globo de Televisão.
Iguais
O fim do debate na Rede Bandeirantes, com Lula e FHC lado a lado, confirmou que o petista e o tucano têm muito mais em comum do que podem admitir na campanha. Sorrindo, Lula chegou perto de elogiar o real. Sorrindo, FHC disse que o real é só o primeiro passo para cumprir as promessas sociais feitas pelo próprio petista.
A diferença está menos neles dois e muito mais nos partidos com que ambos se coligaram.

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