São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
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Perguntas sem respostas

JANIO DE FREITAS

O mais aproveitável nas intervenções dos candidatos a presidente, no interrogatório promovido pela CNBB e transmitido pela Bandeirantes, foi a observação de Leonel Brizola sobre a superficialidade das respostas dadas por todos. As perguntas, quase sempre, denotaram melhor conhecimento dos assuntos do que o exibido pelos candidatos.
No defeito dos candidatos mostrou-se a melhor qualidade do tipo de teste criado pela CNBB, em relação aos debates convencionais. Mostrou-os como são, todos, quando confrontados com questões objetivas: incapazes de delinear uma providência de governo também com objetividade, como fruto de ponderações amadurecidas sobre os problemas que há tantos anos têm diante dos olhos.
Ou pelo conteúdo ou pela forma, as perguntas de jornalistas e empresários oferecem aos candidatos uma grande dose de previsibilidade. Eles já sabem razoavelmente o que vem. Logo, já sabem, treinam até, como contornar as perguntas e deixar tudo por isso mesmo. Esta técnica de resposta foi a constante no encontro da CNBB, mas as perguntas eram mais incisivas e exigentes. Desintelectualizadas, desvestidas das aparências tecnicistas, submeteram os candidatos às indagações cruas, sem maldades e sem favorecimentos, de uma espécie que as mal denominadas elites supõem não existir: gente do povo com consciência política. É claro que nem todas as perguntas tiveram tal padrão. Mas as que o alcançaram, e não foram em minoria, tornaram o desastre inevitável.
O "debate" antes promovido pela Associação Comercial do Rio, com o indisfarçado propósito de promover o candidato do empresariado, teve audiência insignificante. Ainda assim, porém, foi possível constatar as surpresas com o desempenho de Esperidião Amin. A boa audiência do encontro da CNBB, este já com as presenças de Lula da Silva e de Orestes Quércia, só alterou na quantidade os comentários mais favoráveis: os que ouvi, foram todos para Esperidião Amin –o de respostas mais próximas, de fato, das questões propostas e da objetividade.
Continuo sem saber por que se mantêm candidatos, ou por que se pretenderam candidatos, Walter Queiroz, Flávio Rocha e Hernani Fortuna. O cardiologista Enéas fala como eletrocardiograma: por impulsos e só é inteligível para os habilitados a interpretá-lo. Justifica o seu lugar, no entanto. Alguém neste país precisa ter a coragem de mostrar-se de direita.

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