São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Motorista denuncia elo entre Palmeira e esquema Sérvia
LUCIO VAZ ; ARI CIPOLA
O ex-motorista da empreiteira Sérvia Otair Oliveira, 31, relatou ontem detalhes de um suposto esquema de corrupção envolvendo a empresa e o senador Guilherme Palmeira (PFL-AL), vice na chapa de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Oliveira disse ter feito, entre dezembro de 93 e abril de 94, cerca de 15 depósitos na conta de um assessor de Palmeira, Carlos Abraão Moura, na agência do Banespa, na Avenida W-3 Norte, em Brasília. O motorista afirmou que Palmeira assinava emendas de interesse da Sérvia para obras em Alagoas. Disse que foi diversas vezes ao gabinete do senador para buscar documentos em envelopes. Oliveira procurou o deputado Chico Vigilante (PT-DF) para fazer a denúncia contra a empreiteira. Ele falou na presença de quatro jornalistas. A Folha gravou as declarações. Na segunda-feira, ele prestará depoimento ao procurador da República Odin Ferreira. O motorista afirmou ter presenciado um diálogo em que o diretor da Sérvia, Simião Sobral de Faro, e Moura teriam acertado que Palmeira assinaria emendas. "Tem que ir amanhã levar as emendas para o senador Palmeira assinar", teria dito Faro. "Não, eu mesmo levo as emendas e ele assina. Depois devolvo, ou você vai lá pegar as cópias", teria respondido Moura. Seguindo Oliveira, as emendas eram feitas numa casa da Sérvia, na QL-6, do Lago Sul, em Brasília. Participavam prefeitos, deputados e assessores. As emendas eram, de acordo com o motorista, datilografadas por sua ex-mulher, Ana Lúcia Duarte, então secretária da empresa. Ela está desaparecida há 23 dias, desde que fez a primeira denúncia envolvendo a Sérvia ao vice de Fernando Henrique. Oliveira disse ter transportado prefeitos do aeroporto de Brasília até a sede da empresa. Entre eles estariam os de União dos Palmares, Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, todos de Alagoas. À noite, levava-os aos hotéis Nacional, Naoum e Kubitschek Plaza. O motorista afirmou ainda que apresentava as emendas já redigidas na Comissão Mista de Orçamento. Foram cerca de 100 em 92 e 30 em 93. Outro motorista, Elias Sampaio, teria lhe ajudado a colher assinaturas de deputados. Periodicamente, Oliveira transportava Simião Sobral de Faro em deslocamentos para o Congresso, ministérios da Ação Social e Integração Regional, e Departamento Nacional de Estradas e Rodagem. Antes, retirava dinheiro na agência da Caixa Econômica Federal e comprava dólares na casa de câmbio Alphi, no centro comercial Gilberto Salomão, no Lago Sul. Segundo o motorista, Faro seguia para o Congresso e os ministérios com a mala cheia de dinheiro. Chegava a carregar pacotes de dinheiro fora da mala. O proprietário da Alphi, que preferiu não se identificar, disse à Folha que sua empresa opera regularmente com a venda de dólares. Seu registro no Banco Central tem o número 1552/00931. Na segunda-feira, o petista Chico Vigilante vai propor que a Câmara inicie os trabalhos da CPI das Empreiteiras. Texto Anterior: Perguntas sem respostas Próximo Texto: 'Simião guardava o dinheiro na mala' Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |