São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O sofrimento dos hospitais

CÁRMINO ANTONIO DE SOUZA

O sofrimentodos hospitais
Muito se tem escrito e falado sobre a desastrada política de remuneração e de pagamentos do governo federal aos prestadores de serviços da saúde.
Sem dúvida alguma, o sistema hospitalar, tanto lucrativo quanto filantrópico, principalmente as Santas Casas, foi o segmento mais penalizado pelos baixos valores de tabelas e pelos atrasos nos pagamentos.
Para se ter uma idéia do prejuízo financeiro, o governo de São Paulo, de janeiro de 93 a maio de 94, por conta dos atrasos de pagamento, acumulou prejuízos de US$ 178 milhões.
O sistema estadual, incluindo municípios prestadores, teve prejuízos de US$ 1,5 bilhão no mesmo período. Estes valores são demonstrativos das dificuldades e da situação de insolvência que os hospitais dependentes do SUS (Sistema Unificado de Saúde) estão vivendo.
Os resultados dessa política destrutiva se refletem no oferecimento de leitos ao SUS. De 91 até 94, foram reduzidos em 29.870 os leitos privados oferecidos ao SUS no Estado de São Paulo, queda de 15,8% em relação aos 138 mil de 91. O primeiro movimento de redução ocorreu entre 91 e 92, com redução de 7.000 leitos privados.
A segunda redução expressiva ocorreu entre 93 e 94 –um total de 21.870. Vale lembrar que em 93 o Ministério da Saúde permaneceu 120 dias sem realizar qualquer pagamento (com inflação de 25% ao mês) e que os pagamentos atrasados foram feitos sem correção.
Apesar do aumento de leitos públicos (estadual, 18,4%, municipal, 86%, e universitário, 58%), não foi possível acompanhar o desmonte promovido pelo governo federal em nosso sistema estadual hospitalar. Os hospitais privados que ofereciam ao SUS em São Paulo 72,5% dos leitos reduziram esta participação a 55%, enquanto os serviços públicos cresceram de 27,5% para 45%.
Os números são indiscutíveis e refletem uma política deliberada de enfraquecimento do SUS. Os hospitais privados, principalmente os filantrópicos, são fundamentais ao SUS.
No interior do Estado, por exemplo, praticamente 90% da utilização dos leitos privados é feita pelos pacientes do SUS. O empobrecimento da população e, particularmente, da classe média, tem pressionado crescentemente o SUS.
Não é possível mais suportar que o Ministério da Fazenda asfixie o Ministério da Saúde e todo o Sistema Único de Saúde impunemente sem que utilizemos nossos instrumentos políticos e sociais de reação.
Mais uma vez, é necessário que a opinião pública saiba claramente quem são os responsáveis pelas dificuldades por que passa o SUS, particularmente em seu sistema hospitalar.

Texto Anterior: Rio Grande do Sul 1; Rio Grande do Sul 2; Paraná; Santa Catarina 1; Santa Catarina 2; Santa Catarina 3; Santa Catarina 4; Santa Catarina 5
Próximo Texto: 'Ele era o mais alegre de nós', diz Aragão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.