São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
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Excesso de amarras

É de se elogiar o debate promovido anteontem pela CNBB e pela Rede Bandeirantes. Qualquer iniciativa de trazer para mais perto do público a discussão dos grandes temas nacionais e a opinião dos candidatos sobre eles merece louvor.
Parece inegável, porém, que o programa teve um tom monocórdio e pouco crítico, que pode ter afugentado alguns telespectadores ao longo da transmissão. E a responsabilidade por isso não pode ser atribuída apenas aos participantes.
O próprio formato da programação repelia as perguntas entre candidatos, sempre mais polêmicas, e a ausência de réplicas permitia a qualquer presidenciável dizer o que bem entendesse com a certeza de que não seria contestado.
Um outro ponto problemático dos debates reside na própria lei eleitoral. Não se contesta aqui o princípio de que todos os postulantes ao Planalto devam ter equidade de tratamento. Tampouco se criticam os dispositivos para evitar edições enganosas de debates.
Ocorre, porém, que o atual diploma e a interpretação que lhe vem sendo dada pelo TSE enrijecem demais o tratamento jornalístico que deve ser dispensado a cada um dos candidatos, transformando em iguais postulantes que vivem momentos desiguais na disputa.
Ignorando os avanços no campo das pesquisas ocorridos nos últimos decênios, a lei eleitoral obriga os meios eletrônicos de comunicação a tratar os líderes nas sondagens quase que da mesma forma que tratam aqueles que obtêm traço nas intenções de voto.
O próprio espírito de se realizar debates –que é o de tornar mais claras as idéias dos candidatos e permitir ao eleitor uma escolha mais refletida– exigiria que os principais contendores tivessem mais oportunidades de discutir apenas entre eles as suas propostas de governo para o Brasil.
Nos EUA, por exemplo, qualquer um pode organizar, à hora que bem entender, o debate que desejar, convidando quem lhe aprouver. É claro que essa completa desregulamentação, típica da sociedade norte-americana, comporta riscos de manipulação e de injustiças. De outro lado, porém, o excesso de normatização irritantemente comum no Brasil acaba criando distorções. Já é hora de rever essa legislação.

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