São Paulo, sábado, 30 de julho de 1994
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Vamos rir

SÉRGIO AUGUSTO

RIO DE JANEIRO – Volta e meia, em meio ao festival de besteira que não para de assolar o pais –aumentando de intensidade nas campanhas eleitorais–, alguém lamenta: "Que falta faz o Sérgio Porto". Ora se faz. Mas não é só das gozações do Stanislaw Ponte Preta que eu sinto saudade. Outro que muito nos faz falta é o Ivan Lessa, felizmente ainda vivo, mas, infelizmente, recluso em Londres há 16 anos.
Quando leio, ouço ou vejo algo bem ridículo ocorrido no Brasil (ou Bananão, como ele prefere chamar a terra do mulato inzoneiro), dele me lembro quase que pavlovianamente. Seu escracho, sem a menor vergonha de ser politicamente incorreto, poucas vezes nos fez tanta falta como agora.
Senti muito sua falta na morte do Senna, imaginando que afrontosas e lúcidas tiradas não lhe provocaria toda aquela pieguice sobre heróis e auto-estima. Várias vezes durante a Copa me flagrei dizendo: "Ah, se o Ivan Lessa ouvisse isso". O Galvão Bueno não sabe do que escapou.
Mas nem o locutor da Globo e muito menos o Bananão merecem escapar ao impaciente e impiedoso humor do Ivan. A quem devemos impagáveis desaforismos, vários antológicos e atualíssimos, como os que se seguem:
"Se o Brasil é um país essencialmente agrícola, por que é que o nosso céu tem mais estrelas e não batatas?"
"Os pivetes, na realidade, são apenas cobradores da taxa de imortalidade infantil."
"Vomitar no Nordeste é símbolo de status."
"No interior, o ministro do interior é do exterior."
"Dentro de todo empresário paulista há um major querendo sair."
"Os brasileiros foram os primeiros a doar, em massa, com vida e sem o saber, seus corpos às ciências política, econômica e social."
"Deputado é um posto que fica entre ordenança e gerente de banco."
"A única solução para a crise da medicina é os ricos piorarem de saúde e os pobres melhorarem de vida."
"A semiótica é o analfabetismo dos ricos."

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