São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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A raposa vegetariana

LUÍS NASSIF

Em entrevista ao jornal "Gente", da Rádio Bandeirantes, o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães declarou-se contrário à privatização da Telebrás.
O álibi é tão falso quanto batido: apenas uma estatal seria capaz de implantar a telefonia nos grotões do país. A intenção oculta não podia ser mais clara: há muito, o setor de telecomunicações transformou-se na área mais loteada da administração pública. E quem inaugurou este estilo foi o próprio ACM.
Os episódios da mudança de controle da NEC, da impressão das listas telefônicas do Rio de Janeiro, o leilão de concessões públicas de rádios e televisões, em sua gestão à frente do Ministério das Comunicações, ainda hoje se constituem nos exemplos máximos de uma época política que qualquer cidadão de bem desejaria ver varrida da memória do país.
FHC sustentou que os pontos em comum com o PFL situavam-se no empenho de ambos pela revisão constitucional e em seus supostos propósitos modernizantes e privativistas –sem transformar a privatização em fetiche. Consta também que FHC acredita ser possível criar raposa vegetariana em cativeiro.
Ainda ministro, FHC se colocara francamente a favor da privatização do sistema telefônico, resguardado o poder regulador do governo. No meio do caminho, recuou e passou a incluir a telefonia e o petróleo entre os setores intocáveis. Na ocasião, ninguém entendeu.
A partir da posição de ACM, seu recuo começa a ficar mais claro.
A imprensa que afie suas penas, porque não vai ser fácil conter o coronelato político num eventual governo FHC, após a estupenda demonstração de firmeza do candidato na definição do seu vice-presidente.
Pérsio Arida
O presidente do BNDES, Pérsio Arida, entra em contato com a coluna para contestar artigo recente da série "O programa que mudou o país" –onde se aponta o papel deletério de acadêmicos na direção do banco.
Sustenta que em sua gestão o BNDES procedeu ao maior levantamento das questões de infra-estrutura do país, listando projetos incompletos, preparando um plano de reativação que estará disponível.
No campo das idéias, reeditou a revista do banco, principal órgão de disseminação das idéias de seu corpo técnico. Inclusive, solicitou a Júlio Mourão um artigo em que revisitasse a teoria da "integração competitiva", ajudando a reconstruir o clima de debates que existia anteriormente.
É verdade. E em nenhum momento a coluna procurou equipará-lo ao ex-presidente, e seu ex-colega de PUC, Eduardo Modiano –que arrasou a inteligência interna do banco.
Pérsio tem mente aberta, e compromissos com o país. Só que o legado de um economista são as transformações concretas e permanentes que ele opera na sociedade. Não esculturas em gelo, como o Plano Real.
Dedicasse 10% de seu tempo e de sua imaginação a trabalhar reformas efetivas, como a privatização com fundos sociais –tarefa a que ele se propôs quando assumiu o banco–, daria uma efetiva contribuição para a reconstrução do país.

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