São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Centro Cultural expõe gravuras de Dürer

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Título: Xilogravuras de Albrecht Dürer
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000. tel. 011/277-3611, Paraíso, região central de São Paulo)
Quando: de hoje ao dia 28
Visitação: de terça a domingo, das 9h às 22h
Entrada: franca
Como Brás Cubas, que sonhou que viajava pelo tempo no lombo de um rinoceronte, a exposição de xilogravuras de Albrecht Dürer (1471-1528) que o Centro Cultural São Paulo inaugura hoje, resulta de um prodígio de imaginação.
Mesmo os trabalhos mais (por assim dizer) documentais –como o arquifamoso "Rinoceronte" de 1515– ainda guardam um toque de fantástico, como se vê nas 59 reproduções de qualidade trazidas do Instituto de Relações Exteriores de Berlim (Alemanha) pelo Instituto Goethe de São Paulo.
Esse misto de realismo e fantasia, em que aquele serve a esta, talvez seja fruto do fato de que Dürer viveu sempre entre dois mundos (veja texto ao lado): entre arte e ciência, entre Itália e Alemanha, entre gótico e renascimento, entre catolicismo e reforma, entre a Idade Média e a Moderna.
Foi de olho nisso que o crítico italiano Roberto Longhi, num de seus ensaios mais conhecidos (incluído em "De Cimabue a Morandi", editora Mondadori), saiu em defesa de Dürer e, por extensão, do renascimento germânico, até então tido como secundário em relação ao italiano.
Pintor excelente, sobretudo como retratista, e desenhista exímio, tanto quanto Leonardo da Vinci, Dürer como gravador deixou sua marca mais perene pelo pioneirismo.
Acontece que há nas características peculiares da gravura um potencial "düreriano". A precisão de traços e a profundidade mais chapada típicas da gravura –que ele cortava cirurgicamente a buril– eram o que Dürer precisava para sua arte sintética e detalhista.
Figuras menores, de canto, pequenos incidentes, ligeiras variações de traços e o acúmulo desses mini-eventos dão movimento e drama tanto às gravuras bíblicas quanto às profanas. Sem falar do prazer do ambivalente.

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