São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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Velhos maus hábitos

Como era de se esperar, os vícios de uma economia que durante mais de uma década operou com mecanismos generalizados de indexação não desaparecem facilmente.
A naturalidade com que certos Estados e municípios voltaram a indexar seus impostos é a mais clara e mais aberrante evidência da incoerência daqueles que se dizem a favor da estabilização, mas, distorcidamente, continuam a ver no atrelamento aos índices de preços a garantia de suas próprias receitas.
A justificativa apresentada, de que a desindexação causaria perdas de arrecadação e favorecimento aos pagadores em débito, pode servir para qualquer setor da economia.
Mas, se para evitar supostas perdas todos os agentes econômicos se reindexassem, chegaria a um breve fim o Plano Real. E teria um próspero reinício a inflação.
Nesse sentido, a recente declaração do assessor especial da Fazenda, José Milton Dallari, de que considerará abusivos eventuais repasses para os preços de aumentos salariais decorrentes de uma livre negociação, encontra-se dentro do espírito das novas regras do jogo.
Afinal, em um mercado competitivo, as forças que determinam os salários em uma dada empresa ou setor industrial são diferentes daquelas que definem os preços de cada produto. Isso só não ocorre quando há na indústria um mercado oligopolizado, em que as empresas que dominam o setor têm poder para impor seus preços. E nesses casos cabem, de fato, medidas que coíbam distorções.
Se é sabido que o sucesso da estabilidade econômica no médio e longo prazos depende de importantes reformas estruturais, esses episódios deixam também cada vez mais clara a necessidade de uma nova cultura econômica.
Cultura na qual o sucesso de uma atividade empresarial esteja baseado na produtividade e na qualidade de seus bens ou serviços; cultura na qual o governo busque sanear-se obtendo maior eficiência na aplicação dos recursos, e não através da eterna elevação de impostos.

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