São Paulo, sexta-feira, 5 de agosto de 1994
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O jogo sujo do PFL

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Há tempos não ouvia um argumento tão idiota –aliás, compromete a inteligência de seus autores. Para defenderem Marco Maciel, atacado por suas vinculações militares, dirigentes do PFL resolveram agredir o general Osvaldo Oliva, pai de Aloizio Mercadante, vice do PT.
Ao se referir as vinculações de Maciel com a ditadura, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, atacou: "Sobre esse assunto, o PT deve consultar o general Oliva". É algo parecido a exigir de Bornhausen que explique as altas taxas de juros só porque seu irmão Roberto é banqueiro.
O líder do partido na Câmara, Luís Eduardo Magalhães, seguiu o tom: "No regime militar, Marco estava eleito para a Câmara dos Deputados. Quem estava no quartel era o general Oliva". Habitualmente equilibrado, ele não parou um segundo para pensar –justo ele, filho de Antônio Carlos Magalhães.
De fato, o general Oliva estava nos quartéis. Mas, por acaso, Antônio Carlos Magalhães estava na resistência democrática? Nada disso: era homem de extrema confiança dos militares. Imagino que Luís Eduardo, por coerência, se sente responsável pelo pai, exemplo da truculência e do oportunismo político.
Os dois dirigentes do PFL nem sequer se lembraram de um detalhe: como Aloizio Mercadante, Fernando Henrique Cardoso também é filho de general. Ou seja, ninguém tem culpa de ter um pai general ou um filho petista.
O episódio mostra com nitidez a essência do PFL. Eles se envergonham de seu passado. Sempre rastejaram pelo poder. Estiveram com os militares por opção e não por árvore genealógica. Pularam para Sarney, depois Collor, Itamar e, agora, Fernando Henrique. Sua única coerência é o poder acima de qualquer princípio. Se voltarem os militares, mais uma vez estarão dispostos a um desprendimento patriótico.
Na falta de argumentos, preferem insultos. Resta saber se, nessa campanha, eles vão continuar usando ataques familiares –segundo Fernando Henrique, é um método "nojento" (palavra dele) de se fazer política.
PS – Nem tudo está perdido. Se Fernando Henrique ganhar, ele talvez tenha a sorte de ouvir mais a mulher Ruth, uma intelectual séria e íntegra, do que seus novos amiguinhos.

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