São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O SOCIALISMO POR SHAW

GEORGE BERNARD SHAW

É um fato histórico, recorrente o bastante para ser chamado de lei econômica, que o capitalismo, que constrói grandes civilizações, também as destrói se levado além de certo ponto. É fácil demonstrar no papel que a civilização pode ser salva e imensamente desenvolvida se, no momento correto, o capitalismo for abandonado e o Estado da propriedade privada lucrativa transformado no Estado da propriedade coletiva distributiva.
Embora seu momento tenha chegado várias vezes, a mudança não foi efetuada, porque o capitalismo nunca produziu o necessário esclarecimento entre as massas, nem concedeu uma participação majoritária nos negócios públicos à ordem de intelecto e caráter fora da qual o socialismo, e de fato a política, em contraste com o mero partidarismo eleitoreiro, é incompreensível.
Um Estado socialista estável não será possível enquanto os dois princípios fundamentais do socialismo –a abolição da propriedade privada (que não deve ser confundido com propriedade pessoal) e a igualdade de renda não se tiverem apossado do povo como dogmas religiosos. (...)
Omitindo uns poucos casos óbvios (...) as diferenças de renda existentes entre trabalhadores não são diferenças individuais, mas corporativas. Dentro da corporação, nenhuma discriminação entre indivíduos é possível; todos os trabalhadores comuns, assim como todos os funcionários públicos graduados, são igualmente remunerados. O argumento em defesa da equalização dos rendimentos das várias classes é que uma distribuição desigual do poder de compra perturba a ordem adequada da produção econômica, levando a uma produção de bens de luxo em escala exagerada enquanto as necessidades vitais básicas do povo são deixadas insatisfeitas; que seu efeito sobre o casamento, ao limitar e corromper a seleção sexual, é extremamente disgênico; que ela reduz a religião, a legislação, a educação e a administração da justiça ao absurdo de discriminar ricos e pobres; e que cria uma idolatria da riqueza e da ociosidade que inverte toda moralidade social sensata.

Texto Anterior: Tesouro dos tesouros
Próximo Texto: LÊNIN POR TRÓTSKI
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.