São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Personagem de Lília Cabral faz caricatura histriônica de socialites

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Quando Lília Cabral entrou no salão de beleza foi a maior saia justa. Metade das mulheres fez beicinho, enquanto a outra metade exagerou na simpatia. Foi o "efeito Simone".
Desde que começou a viver uma alpinista social decadente em "Pátria Minha", novela das oito da Globo, a atriz já observou todo o tipo de reação entre as dondocas da vida real –da louvação ao desprezo.
"Algumas peruas foram simpáticas além da conta, para não vestir a carapuça. Já outras, fecharam a cara, embora estivessem com roupas, brincos e sapatos parecidos com os da personagem", conta Lília.
"A palavra-chave de Simone é superficialidade. Me inspirei nessas socialites que só saem nos jornais por motivos fúteis. Mas acho que a personagem ainda terá momentos de humanidade", analisa Lília.
Simone é ex-mulher do playboy milionário Gustavo Pelegrini (Kadu Moliterno), com quem foi casada por um ano e de quem levou, na separação, um apartamento e R$ 300 mil –e acha pouco.
Além de continuar a usar o sobrenome do ex-marido, para desespero da família Pelegrini, Simone passa os dias a arquitetar um modo de auferir mais alguns trocados.
O histrionismo da personagem vai chegar ao cume com a morte prematura de Gustavo, no ar esta semana. "Ela terá um comportamento de viúva e chega a entrar de bicona na fila dos pêsames", conta Lília.
Agraciada com o texto impecável de Gilberto Braga –repleto de pérolas como: "Não estão me convidando nem para fim-de-semana em Muriqui"–, Lília, 36, transformou Simone em uma das primeiras surpresas da novela das oito.
"No início eu não tinha referência de que ela seria engraçada. É uma faca de dois gumes, pois não posso exagerar no tom, nem ser natural como a personagem da Patrícia Pillar, por exemplo", explica.
A admiração de Braga pelo trabalho de Lília Cabral data de 1983, quando o novelista assistiu de pé a uma apresentação da peça "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva, na qual a atriz contracenava com Marcos Frota.
Braga foi ao teatro convencido por seu amigo –e atual diretor de "Pátria Minha"– Dênis Carvalho, que já tinha visto o espetáculo e adorado a performance de Lília. E não se arrependeu.
Logo depois, chamou Lília para ser a histérica e deslumbrada Margarida em "Corpo a Corpo", primeiro trabalho da atriz na Globo.
Antes, em 1981, Lília já tinha atuado em "Os Imigrantes", da Bandeirantes.
Paulistana da Lapa, "da parte de cima da linha do trem", ela já está há dez anos no Rio –"apaixonada e amedrontada".
"No ano passado, eu acabava de sair do teatro, com o dinheiro arrecadado pelo espetáculo, e fui assaltada dentro do carro, num sinal de Ipanema (zona sul). O cara me encostou um revólver na janela e levou tudo", conta.
No dia seguinte, já "batizada", ela pegou o resto de suas economias e comprou um carro com ar-condicionado. "Agora só ando com os vidros fechados, mas adoro o Rio, apesar da violência."
A São Paulo, ela só vai para rever a família e os amigos. "Entre os paulistas, as amizades parecem sempre eternas. No Rio há uma indiferença que não é proposital, mas temos que ficar reforçando", diz Lília.
Filha de família conservadora, Lília sempre quis ser atriz. Na Escola Experimental, teve suas primeiras experiências com teatro, política e educação sexual.
"Lembro que tinha uns dez anos quando minha professora da primeira série ginasial foi levada da sala de aula por dois homens e nunca mais apareceu."
Anos depois, quando já era aluna da USP, Lília foi fazer teatro infantil e passou a experimentar o gosto pelos prêmios. O primeiro sucesso adulto veio com a peça "Seda Pura e Alfinetadas", em 1980, onde dividia o palco com Clodovil.
Ao lado de Hugo de La Santa, participou ainda da Companhia Dramática Piedade, Terror e Anarquia, onde seu currículo teatral se completou.
Atualmente, quando não está às voltas com as maquinações de Simone, Lília percorre o Brasil com "Solteira, Casada, Viúva e Divorciada", peça que lhe rendeu o prêmio Shell de melhor atriz no ano passado.
Separada do primeiro marido, Lília diz que está amando mas não quer muita publicidade. Prefere anunciar que hoje estará com sua peça em Belo Horizonte (MG), e, na semana que vem, em Ilhéus (BA).

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