São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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Previsão é de inflação maior em setembro

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado financeiro trabalha com a hipótese de uma inflação ligeiramente maior em setembro do que em agosto.
É um resultado da sazonalidade, especialmente do aumento previsto para o preço da carne provocado pela entressafra.
Para agosto, o mercado trabalha com um número médio, entre os vários índices, ao redor de 1%. Para setembro, a média fica entre 25% e 50% maior.
Embora a política de juros seguida pelo Banco Central não mantenha mais uma relação automática e passiva com os índices de inflação, esta trajetória prevista para os preços abriu uma nova discussão sobre o ritmo de queda das taxas de juros.
O mercado não tem dúvidas sobre a trajetória dos juros: é de queda. Apenas discute, como já vem fazendo desde julho, o ritmo e a intensidade deste movimento.
Mas, ainda por cima, o calendário é ingrato para o Banco Central. Setembro tem menos dias úteis do que agosto.
Assim, para um mesmo rendimento teórico no final de cada um destes meses, a taxa diária paga em setembro teria que ser ligeiramente maior.
Discussão
O mercado começa a questionar a viabilidade política de uma elevação nominal das taxas exatamente um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais.
Há quem defenda, como Pedro Bodin, ex-diretor do Banco Central e, atualmente, no banco Icatu, que o governo seja extremamente cauteloso no ritmo de queda dos juros.
O objetivo seria manter uma trajetória descendente das taxas mesmo durante o mês de setembro.
Cláudio Haddad, do banco Garantia, também acredita em um Banco Central extremamente conservador na trajetória de queda, porque a inflação de agosto será a primeira "praticamente despoluída", observa.
Ou seja, os índices não vão mais carregar as remarcações alucinadas de preços da virada de junho.
O Banco Central tem, de fato, se comportado de forma conservadora. No mercado futuro de juros, a previsão é de uma queda contínua das taxas, mas o Banco Central mantém a taxa-over em torno de 5,5% desde o início do mês.
Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central e sócio da Linear, diz que a queda de juros no mercado futuro é fruto de dois movimentos: 1) como o mercado procura sempre se antecipar aos fatos, ele sempre costuma exagerar na tendência; 2) como as instituições financeiras são compradoras de títulos públicos, toda queda dos juros acaba sendo lucrativa.
É que o detentor do título acaba obtendo um ganho financeiro na margem. Afinal, seu papel vai render, por exemplo, 4,5%, enquanto as taxas projetam um rendimento menor lá na frente.
Salários
Não bastassem as dúvidas sobre a trajetória dos juros e a certeza sobre a da inflação, alguns analistas colocam em dúvida o futuro do Plano Real por causa dos problemas gerenciais de agosto/setembro. Um deles é o consultor Gil Pace.
Ao contrário do otimismo que permeia o mercado, Pace acredita que o Plano Real só serve para provocar uma queda instantânea dos preços e nada tem de "um verdadeiro plano de estabilização".
Para ele, o plano está ancorado mesmo é "nas perdas salariais", o que começa a ser questionado em setembro, data-base de bancários e petroleiros.
São estas perdas que podem garantir algum equilíbrio mais duradouro entre juros, câmbio, recessão, preços públicos e salários.
"A inflação começa a voltar em setembro", afirma o consultor.
A este efeito deve ser somado o que ele chamou de desilusão monetária. O juro nominalmente mais baixo vai permitir a migração de recursos da caderneta de poupança para os ativos reais e o consumo.
Dependendo das expectativas, o BC pode ser obrigado a ser mais conservador do que pretende.

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