São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994
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Estréia de 'Ham-Let' termina no escuro

MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

Terminou às 2h40 de sábado, e quase às escuras, a primeira apresentação da peça "Ham-Let" no Parque Lage (zona sul do Rio). A meia hora do final, a luz do palco entrou em pane.
"Zé Celso é fantástico e a peça incorporou até a falta de luz. Adorei, estava na maior espectativa", disse a atriz Marieta Severo, ao final das cinco horas de espetáculo.
Além da falta de luz no final, o frio conspirou contra a montagem de José Celso Martinez Correa. Quando foi dita a última fala, metade dos cerca de 200 espectadores continuava no teatro.
"Achei a peça plástica e musicalmente perfeita. É um ato corajoso do Zé Celso, que quebrou mais uma vez a espinha dorsal dos espetáculos", disse Jards Macalé.
Programada por um dos patrocinadores da peça no Rio, a estréia foi só para convidados. Para sábado estava prevista a presença de boa parte da classe artística carioca –de Moacyr Góes a Bia Lessa.
A temporada de oito apresentações no Rio tem duas inovações em relação aos seis meses em que "Ham-Let" ficou em cartaz em São Paulo. A primeira delas é Christiane Torloni como a rainha Gertrudes, mãe de Hamlet (Marcelo Drummond), que se casa com o rei Cláudio (Valney Costa) após a morte do marido (Zé Celso).
Torloni teve uma performance no nível das que costuma apresentar em seus trabalhos na TV.
A outra novidade no Rio é o espaço cênico, localizado na área interna do casarão erguido nos anos 20 pelo armador Henrique Lage. Ali, ele abrigou sua musa, a cantora lírica Gabriela Besanzone.
Também ali, Glauber Rocha rodou cenas de "Terra em Transe" e foi velado anos depois. O lago artificial do parque serviu de panela para a gigantesca feijoada do filme "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade. "É uma amazônia cultural", definiu Zé Celso.
Sexta-feira, o diretor fez a festa. Desafiando o frio e a chuva intermitente que alagou a parte não-coberta do palco, esqueceu a convalescença e entrou em cena como o fantasma do pai de Hamlet.
Mesmo quando não estava no palco, vagava pela platéia conferindo silenciosamente com os lábios cada fala dita em cena. Qual um maestro, regia seu show.
Quando Polônio (Pascoal da Conceição) atirou-se na água, já de madrugada, os espectadores que resistiam aplaudiram mais uma vez. Era uma ducha de Zé Celso no cansaço de cada um.

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