São Paulo, segunda-feira, 8 de agosto de 1994 |
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Conflito não tem solução política para esta geração
RICHARD DOWDEN
Não é uma questão de desenhar e redesenhar fronteiras. A relação entre hutus e tutsis é sui-generis: eles vivem nas mesmas montanhas, nos mesmos vales e nas mesmas aldeias. Não há "lares" ou territórios em disputa. Para hutus e tutsis, o mundo inteiro, e tudo o que está nele, é disputado. O cataclisma dá vazão à fantasia. Quando o mundo se torna assustador demais para ser encarado, surgem as teorias de conspirações. Vários documentos têm aparecido na região, falando de uma suposta conspiração tutsi para controlar toda a África central. Segundo documento que circula em Londres, "quando o controle de todas as posições importantes for conseguido, nós devemos eliminar nossos inimigos bantus, especialmente os hutus". Esse tipo de calúnia circula entre intelectuais no Ocidente. Então que tipo de fantasias não deve passar pela cabeça dos refugiados? Razão e reconciliação têm pouca chance em ambiente tão envenenado. De um lado o novo governo prega a volta dos refugiados, dizendo que garantirá sua segurança. De outro, tropas hutus derrotadas na guerra pregam vingança. É possível imaginar uma solução política que recrie Estados-nações em Ruanda e Burundi e faça hutus e tutsis voltar a viver juntos? Mesmo se fossem julgados os responsáveis pelos massacres, isso acalmaria a fúria e o desespero? As matanças foram levadas a cabo não só por soldados, mas também por civis, vizinhos que conheciam suas vítimas. Não há como haver paz na região por pelo menos uma geração. Texto Anterior: Ruandeses voltam pelo oeste, fogem pelo leste Próximo Texto: Fujimori marca eleição e pede volta da mulher Índice |
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