São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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3 mil clandestinos entram na folha salarial da União

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma investigação conduzida pela SAF (Secretaria da Administração Federal) descobriu que pelo menos 3 mil pessoas entraram clandestinamente nos computadores que preparam as folhas de pagamentos do funcionalismo público federal.
Para entrar no sistema, até mortos foram utilizados, usando-se suas senhas que dão acesso ao sistema. Onze meses depois da morte da cadastradora oficial Maria A. Souza Franco, sua senha ainda era utilizada.
A senha de Cantídio de Carvalho, também morto, foi utilizada, segundo a auditoria pelo Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), o principal de centro de informática do Governo Federal.
Um cadastrador clandestino chegou a se registrar no computador com o apelido "Fantasminha Camarada", dando a seu CPF o número de 999999999-9. A auditoria constatou que pelo menos 1.359 nomes que se infiltraram como cadastradores tinham vínculo com o serviço públicos.
A auditoria ocorreu em outubro de 1993, mas até agora nenhum dos envolvidos foi sequer processado. Uma cópia do relatório foi enviada ao Tribunal de Contas da União e outra à Secretaria de Controle Interno do Palácio do Planalto, além do Serpro.
Constatou-se que dois funcionários federais (João Eudes C. Araújo e Neila Maria Breves), baseados em Roraima, receberam cada um, apenas num mês, R$ 81 mil. A SAF já exigiu o retorno do dinheiro aos cofres da União.
Os números mais volumosos apareceram quando se analisaram as acumulações indevidas de cargos. Só no mês de setembro de 1993, essas acumulações deram um prejuízo de US$ 4,6 milhões.
Segundo o responsável pela Comissão de Segurança e Modernização do Siape (Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos), Roberto Sobral, ainda não é possível se avaliar o tamanho do desvio. Ele estima que foram desperdiçados, pelo menos, R$ 200 milhões num ano.
Para Sobral, o melhor caminho para se revelarem os envolvidos é investigar os beneficiários de acumulações de gratificações ou salários depositados além do valor devido.
O ministro da Administração, Romildo Canhin, disse à Folha que, apesar de todos os esforços, o governo federal não sabe com certeza como são utilizados os recursos destinados ao pagamento dos funcionários da administração direta, fundação e autarquias. "É muito falho", afirma.
Ele afirma que o sistema de fiscalização é ainda frágil. Há no Brasil aproximadamente 1 milhão desses servidores. Ele absorvem por mês cerca de R$ 630 milhões.
O ministro ainda disse não saber quais são todos os truques utilizados para que alguém obtenha uma senha, que lhe garanta entrar no sistema. Um deles é ter acesso aos mecanismos de distribuição de senhas -em cada repartição, há um responsável pelo cadastramento e um computador interligado.
Canhim quer uma auditoria administrativa para punir os responsáveis e uma reestrutura de todo o sistema do Siape. Decretos já foram encaminhados ao Palácio do Planalto. Daí ter sido aprovada a Comissão de Modernização.
Em documento enviado à Saf, o Serpro reconhece as falhas, alegando falta de recursos para operar com mais segurança o sistema SIAPE. Alega que se "enfrentaram percalços naturais em razão da descontinuidade administração dessa secretaria".

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