São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Governadores só têm peso se forem amigos do rei

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Há duas semanas, o governador Joaquim Francisco (PFL-PE), reuniu cerca de 500 lideranças estaduais para dar um empurrão na candidatura ao governo local de Gustavo Krause, seu aliado.
Um dos argumentos usados foi direto: "É importante para um governador ser amigo do presidente da República. E o Krause, como vocês sabem, era o candidato a vice preferido do Fernando Henrique Cardoso".
Sem querer, Joaquim Francisco resumiu nessa frase um pouco da relativamente reduzida importância que os governadores estaduais passaram a ter no jogo político.
Ser amigo do rei (no caso, do presidente) é uma das poucas formas de um governador ter algum peso.
Nas questões mais relevantes, é perto de zero a influência dos governadores, pelo menos desde que o país voltou à democracia, em 85.
É o caso, por exemplo, da elaboração dos planos econômicos, que abundaram a partir do Cruzado de 86. "Quando chega a hora da onça beber água, o governo federal não chama os governadores, não", depõe Joaquim Francisco.
Ciro Gomes (PSDB), governador do Ceará, reforça: diz que participou, toda sexta-feira, de reuniões sigilosas que preparavam o Plano Real, mas o fez na condição de amigo pessoal de membros da equipe econômica, como Pérsio Arida e Edmar Bacha.
"Não participei como governador, como, de resto, governador algum participou", diz Ciro.
Concide com os dois o prefeito paulistano, Paulo Maluf (PPR): "Os governadores nunca são consultados sobre políticas públicas federais, embora o sejam sobre questões que afetem os Estados".
Maluf menciona, especificamente, planos habitacionais, rolagem das dívidas interna e externa dos Estados –enfim, questões microeconômicas ou setoriais, ainda que eventualmente relevantes.
O depoimento de um ex-governador e agora candidato de novo, o paranaense Álvaro Dias (PP), vai na mesma direção.
Álvaro afirma que os governadores têm uma influência relativa em questões administrativas que dependem de parceria entre a União e um ou vários Estados.
"Mas nos planos econômicos a influência inexiste", admite Dias.
Ciro Gomes chega a ser mais contudente na sua avaliação. "Que os governadores influam como pessoas físicas, como entidade, é falso. Eles vivem desse papo, mas é falso", decreta o governador.
Ciro estende a sua avaliação até mesmo a um aliado de momento, o ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães (PFL), sempre apontado como uma espécie de eminência parda da República, em diferentes governos.
"ACM faz uma ficção enorme em torno de seu controle sobre uma bancada própria no Congresso. Não é verdade", dispara o governador cearense.
Mesmo um Estado como São Paulo, o mais poderoso da República economicamente, tem influência reduzida sobre as políticas federais, na avaliação de governadores ou ex-governadores ouvidos pela Folha.
"Analisando à distância e talvez por um desentendimento de temperamentos, São Paulo não tem sido chamado para a mesa das grandes decisões, ao que eu saiba", depõe Joaquim Francisco.
Mesmo o papel de "amigo do rei", exaltado por Joaquim Francisco como trunfo eleitoral de Gustavo Krause, nem sempre rende os dividendos esperados.
Ciro Gomes, por exemplo, embora diga que tem sido muito "prestigiado" por Itamar, com o qual mantém as melhores relações, lamenta que, para o Banco do Nordeste (entidade federal), tenham sido nomeados políticos do PMDB, exatamente seus maiores adversários locais.

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