São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Procura-se estabilidade

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Luiz Inácio Lula da Silva passou os últimos quatro anos tentando convencer o eleitor brasileiro de que a bandeira do PT, antes vermelhíssima, desbotou.
Desde 89, o candidato do PT se esforça para tingir o estandarte de seu partido com cores menos agressivas, puxando para o cor-de-rosa.
Barba aparada, melhor vestido, Lula conseguiu adotar um discurso social-democrata. Atropelou os radicais que o rodeiam.
Com isso, engordou o seu cesto de votos, atraindo a simpatia de parte da classe média.
Pois todo o esforço pode agora resultar em nada. O comportamento de Lula estimula a suspeita de que o candidato pode estar realizando uma volta ao passado.
O novo tom da fala de Lula é comemorado pelos auxiliares de Fernando Henrique. Aposta-se no comitê rival que, em menos de 30 dias, Lula e o PT terão a mesma face assustadora que ajudou Collor a vencer as eleições em 89.
Fernando Henrique, na verdade, torce para que Lula radicalize o seu discurso, ideologizando a campanha.
A assessoria tucana saboreou cada palavra dita por Lula em sua passagem por Brasília, no domingo.
O petista prometeu desapropriar fazendas pelo valor venal, abaixo dos preços de mercado.
Não se discute se a afirmação de Lula embute um raciocínio correto ou equivocado. O que se pergunta é se sua frase rende votos.
A cúpula do PSDB acha que não. E idealiza um cenário em que Lula, sem discurso, retome a pregação esquerdista de 89.
Se isso ocorrer, Fernando Henrique tomará trilha oposta. Tentará vender-se ao eleitorado como uma personalidade acima de ideologias.
A estratégia do PSDB não nasceu do nada. Está fundada em pesquisas que demonstram o interesse do eleitor por um candidato que o tranquilize, que prometa estabilidade.
Eis uma das grandes novidades da atual campanha: o eleitor de 89 buscava em Collor e em Lula a mudança. O de 94 parece desejar a continuidade.
Fernando Henrique é beneficiário de uma casualidade: O governo Itamar começou no fim. Não houve tempo para que desse verdadeiramente errado.
Como todos os planos econômicos anteriores, o real terá problemas no futuro. São enormes as chances de fracassar.
Mas tudo se dará depois das eleições. Hoje, boa parte do eleitorado é continuísta. Itamar Franco, com todas as suas debilidades, não desperta o sentimento de oposição.

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