São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Piadas muito sérias

ZECA CAMARGO

Michael Moore tinha sido amaldiçoado, tipo Orson Welles. Afinal, depois do ótimo documentário de estréia, "Roger & Me" (1989), ele sumiu até algumas semanas atrás, quando a rede americana NBC estreou "TV Nation", uma espécie de "Globo Repórter" às avessas que Moore dirige e apresenta.
"TV Nation" é bem mais do que um conjunto de reportagens especiais: é uma colagem de retratos bizarros do cotidiano americano. O programa é seríssimo –e engraçadíssimo.
Nele, Moore expande o humor sutil da vida das pessoas e, como ninguém na TV, é capaz de ver as maiores ironias na realidade e mostrar como elas são absurdas sem usar a caricatura. É fácil fazer uma "Casseta e Planeta". Mas experimente tirar graça sem contar piada.
Um "TV Nation" recente, por exemplo, falava de bichos de estimação que tomam Prozac (a saúde mental dos donos não é questionada). O ex-presidente Bush fala sobre a liberdade no Kwait e Moore informa que só os homens votam no país. E num quarto com um pôster de Hitler com a frase "A propaganda faz acontecer", um ativista da KKK fala sobre como a "mensagem certa" pode limpar a imagem racista da organização.
E por cima de tudo tem a empáfia de Moore, que é capaz de ir para a porta da IBM e desafiar o presidente da empresa a formatar um disquete.
No ar todas as terças, às 20h, "TV Nation" não estreou muito bem de audiência. Mas mesmo que dure pouco, fica o registro de que alguém pelo menos tentou mostrar que quanto mais sério o assunto, melhor é a piada.

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