São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Mostra traz pinturas em acrílico de Babinski

CARLOS UCHÔA FAGUNDES JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O artista plástico volta a São Paulo para mais uma individual na Galeria Luisa Strina, a ser aberta hoje.
Viaja fascinado pelos mistérios da paisagem natural e pelas marcas deixadas por antiquíssimas mãos humanas em pinturas e gravações rupestres, como as de Sete Cidades ou de Lagoa Seca, cujas escavações acompanha com interesse.
Sinuosidade
Este olhar sobre a paisagem e o gesto essencial purificado pelos séculos, herança de uma humanidade livre da artificialização atual, influem talvez na própria fase recente de seu trabalho, onde um desenho mais puro e direto se traça sobre a tela, respeitando uma sinuosidade "automática" que parece extrair de uma memória arcaica do braço suas figuras.
São telas menos empastadas que as anteriores, trazendo de volta a condensação espacial que seus desenhos, até cerca de 1970, traziam. Por isso as telas são pequenas se comparadas às dimensões que a pintura passou a exigir da maioria dos artistas hoje. Trata-se de uma gestualidade intensiva, concentrada em pequenos espaços.
Surrealismo
A sinuosidade da linha que constrói uma multidão obsessiva de cabeças lembra o destravamento da vertente surrealista mais interessante, aquela de um André Masson e, em parte, de um Max Ernst, ou também de algumas obras lineares do surrelismo de Picasso, por exemplo, em "O Pintor e Seu Modelo" de 1926.
O automatismo se confirma historicamente, porque Babinski estudou no Canadá, onde, de fato, esteve em contato com os pintores automatistas, tendo exposto com eles em 1950 e 1952, mesmo sendo considerado um membro atípico do grupo.
Esta linha sinuosa parece percorrer várias alturas do plano pictórico, como a mapear planos paralelos à tela, marcando a indeterminação da espessura do espaço.
Cubismo sintético
Esta mesma operação nasceu nos últimos momentos do cubismo sintético, criando um tipo de espacialidade não-hierárquica que tem familiaridade com a "allover composition" (composição ubíqua) presente na obra de Pollock, Babinski toma a superfície da tela como um todo não hierarquizado, constituído como que por padrões repetidos ao longo de todo o campo pictórico.
Estas obras recolocam o desenho como desígnio ou marca inexorável e necessária para a conformação da pintura, percutindo, ao mesmo tempo, o universo narrativo genérico de suas figuras. E o drama delas que galvaniza cada obra, amarrando o dado puramente plástico.
Talvez hoje nos perguntemos em quê apenas uma "paisagem", como "Boqueirão de Lavras", puro significante neutro, é pretexto para a investigação plástica?
Um bom momento para conferir toda esta trajetória, desde o universo expressionista de suas gravuras, até as últimas pinturas, será no próximo ano, com a retrospectiva que Babinski está preparando para o Paço Imperial do Rio.

Exposição: Pinturas de Maciej Babinski
Onde: Galeria Luisa Strina (rua Padre João Manuel, 974 A, Jardins, zona sul, tel. 011/280-2471)
Quando: abertura hoje, 19h. Até 3 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 20h; sábados, das 10h às 14h.

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