São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Recaída

Recaída
O presidente Itamar Franco sofreu no domingo uma

O presidente Itamar Franco sofreu no domingo uma recaída no papel de líder da oposição ao governo do próprio Itamar Franco. Essa é a única interpretação para as confusas e tortuosas declarações que o presidente fez a respeito do aumento do funcionalismo público.
Só mesmo um dirigente de oposição seria capaz de insinuar que se alojam no governo alguns mentirosos que argumentam com números improcedentes ou suspeitos. Uma insinuação desse gênero já seria grave se formulada em reuniões fechadas. Torna-se no mínimo insólita quando dita diante de câmeras e microfones, como o fez Itamar.
Esse novo destempero verbal do presidente acabou dando contornos de início de crise a uma novela, a do reajuste do funcionalismo, que já se arrasta há demasiado tempo.
É verdade que não há, para a questão do funcionalismo, uma saída ideal no curto e médio prazos. Sabe-se que os salários, de modo geral, são baixos e por isso é necessário melhorá-los. Mas sabe-se, igualmente, que a falência do Estado impede que o percentual de reajuste sequer se aproxime do ideal.
Qualquer solução mais definitiva exige reformas que não estão ao alcance de um governo ao qual restam apenas quatro meses e 20 dias de gestão. Exige, acima de tudo, que se definam o tamanho e o papel do Estado. Só assim o futuro governo estará em condições de determinar o número de funcionários de que necessita e, por extensão, a remuneração cabível.
É no mínimo improvável que essa redefinição possa ser feita sem uma reforma da Constituição que toque, além do mais, na questão da estabilidade do funcionalismo.
Resta, portanto, ao atual governo entender qual é a prioridade possível neste curto tempo que lhe resta. O mais elementar bom senso indica que há uma grande prioridade: garantir que o plano de estabilização da economia não seja torpedeado por um reajuste acima das possibilidades do erário.
A reivindicação do funcionalismo, por mais justa que seja, tem portanto de ficar subordinada a essa prioridade elementar. Quando o próprio presidente insinua dúvidas a respeito dos números com os quais trabalha o governo, só contribui para que a solução que vier a ser dada, necessariamente insatisfatória, torne-se ainda mais suscetível de contestação. Nem a oposição conseguiu até agora criar para o governo situação tão constrangedora.

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