São Paulo, terça-feira, 9 de agosto de 1994
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Fruta bichada

O suplemento "Folha 300", publicado domingo, reúne informações que mais uma vez comprovam a vitalidade da economia brasileira e, muito especialmente, das suas empresas. Há novos investimentos em curso, progride a descoberta de novos produtos e mercados, a busca de qualidade e competitividade lança raízes profundas.
A performance positiva das empresas tem uma explicação macroeconômica. A partir de 93 a economia brasileira finalmente conseguiu libertar-se, apesar da instabilidade inflacionária, da armadilha recessiva lançada pelo Plano Collor em 90.
Há também pelo menos dois importantes fatores mais estritamente empresariais ou microeconômicos. De um lado, as maiores empresas do país, incluídas no suplemento, exibem hoje um baixíssimo grau de endividamento. Isso significa que as políticas do governo de juros reais elevados, a regra dos últimos anos, mesmo que representem um freio ao investimento, nem por isso implicam fragilização patrimonial. Ao contrário, essas empresas souberam tirar proveito do chamado "efeito riqueza" que propiciou rendimentos mais que proporcionais aos auferidos na produção.
Outro fator fundamental tem sido a abertura econômica e a capacidade demonstrada pelo empresariado de conquistar mercados externos e modernizar suas linhas de produção. O desafio da concorrência externa traz para o cotidiano das empresas o desafio de aumentar a qualidade e a produtividade.
Infelizmente, todo esse dinamismo convive com uma deterioração igualmente progressiva das finanças públicas e com o predomínio cada vez mais anacrônico de enormes empresas estatais. O investimento público estagnou. Os ganhos de produtividade no setor privado ameaçam ser corroídos pelo corporativismo do setor público.
Tudo se passa como numa fruta madura e viçosa, mas bichada. O organismo econômico brasileiro dá sinais de vitalidade e dinamismo, mas ainda não se mostrou capaz de extirpar seus parasitas.

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