São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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Itamar culpa Fazenda por aumento salarial reduzido

SILVANA DE FREITAS ; MÁRCIA MARQUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco responsabilizou ontem o Ministério da Fazenda por não conseguir reajustar o salários dos servidores públicos acima do que foi estabelecido em reuniões feitas no início desta semana.
Ele voltou a reclamar da equipe econômica numa solenidade de cumprimentos aos novos oficiais generais, no Palácio do Planalto. Segundo o presidente, ele foi pressionado pelos "rígidos parâmetros" da equipe.
"Premido pelos rígidos parâmetros advindos do Ministério da Fazenda, em documentos escritos, esforcei-me ao limite extremo da minha resistência para compatibilizar as possibilidades do Tesouro com a implantação da regra constitucional da isonomia", disse. Segundo o dicionário "Aurélio", premido (do verbo premer) significa "apertado", "pressionado".
Itamar disse esperar que seu sucessor pague melhores salários aos servidores. Nenhum integrante da área econômica estava presente.
No discurso, Itamar também disse que vem enfrentando a "resistência organizada de determinados e poderosos setores, que se beneficiam da injustiça e se negam a contribuir para a prosperidade comum". Não definiu quais.
Todos os ministros militares estavam presentes, inclusive o general Romildo Canhim, ministro-chefe da Secretaria de Administração Federal (SAF), um dos responsáveis pelo projeto de isonomia salarial.
"As pressões corporativas, a insensibilidade das elites, a voracidade gananciosa dos oligopólios, as distorções do pensamento técnico –tudo isso, entre outros fatores, contribuiu para que se acentuassem as disparidades sociais".
Também disse que "o egoísmo de uma minoria de privilegiados nos tem impedido de assegurar a justiça social em nosso país".
Segundo ele, os militares são "vítimas da injustiça". Ele ressaltou as "dificuldades" das Forças Armadas e afirmou que "se angustia" na busca de solução salarial. Disse estar disposto a "fazer de tudo, dentro dos reduzidos limites da Fazenda", para melhorar os salários do funcionalismo.
O presidente assina até segunda-feira a MP (medida provisória) que vai implementar a primeira etapa da isonomia salarial. Os índices não estão definidos.
No discurso, disse que assinaria a MP "nas próximas horas", mas o presidente da Telerj e um dos amigos mais próximos a Itamar, José de Castro, disse que a definição das tabelas de aumento ainda depende de uma análise jurídica sobre o texto da MP. Canhim entrega hoje a Itamar a proposta de aumento para servidores civis.
Os ministros do Exército, Zenildo Lucena, e da Marinha, Ivan Serpa, não ficaram satisfeitos com o reajuste definido pelo governo para os servidores militares.
Perguntado se estava contente com o reajuste, o ministro do Exército disse que não. Ele completou que estava "contente que o plano (Real) dê certo" (sic).
O ministro da Marinha afirmou que o reajuste não atende às necessidades da tropa, mas disse que "dá para aliviar". Serpa informou que deve haver outras etapas de negociação para novos reajustes.
Ao ser lembrado da declaração feita pelo chefe do Emfa, almirante Arnaldo Leite, de que os salários estavam "baixíssimos", Serpa reagiu: "agora estão baixos".
Segundo Lucena, o reajuste concedido "é o que o governo pode dar sem prejudicar o plano".

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