São Paulo, sexta-feira, 12 de agosto de 1994
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FHC tenta descolar discurso do aliado PFL

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para agradar o eleitorado que ainda está insatisfeito com a coligação com os pefelistas, Fernando Henrique Cardoso está mudando seu discurso e dando sinais de independência em relação ao PFL.
FHC tem detectado, por intermédio de pesquisas, que há focos de resistência ao acordo com o PFL no eleitorado identificado com ele.
Mais que isso, FHC teme passar a imagem de que, em caso de vitória, seu governo será controlado pelo PFL.
Tenta ainda anular versões de que o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães será o homem forte de seu governo.
O fato é que o PFL é bem mais forte do que o PSDB. Na Câmara, por exemplo, o PFL tem 89 deputados contra apenas 48 do PSDB.
Mas os peessedebistas estão convencidos de que a aliança com o PFL pouco acrescentou eleitoralmente a FHC.
Principal reduto dos pefelistas, o Nordeste é a região em que FHC tem seu pior desempenho.
Para os peessedebistas, o que pesou mesmo na subida de FHC foi o Real. Segundo eles, isso deu condições para que emitisse sinais de independência do PFL.
"Fernando Henrique é o Romário da eleição. Foi ele que fez o gol contra a inflação", diz Miguel Reale Júnior, amigo de FHC e dirigente tucano.
O governador do Ceará, Ciro Gomes (PSDB), diz que o Real "deu independência" ao candidato. "A hegemonia da aliança é do PSDB e de Fernando Henrique".
Além da independência com o PFL, FHC também emite sinais de que pretende atrair novos eleitores ao falar de aumento do salário mínimo e de estatização.
Eduardo Jorge, assessor especial do candidato, não acredita em mudanças.
"É possível até que ele esteja requentando seu antigo discurso, relembarando o que já havia dito", afirmou. "Mas não vejo mudanças no discurso", disse.
Mas não é isso que vem ocorrendo desde que FHC começou a subir nas pesquisas. A seguir, principais sinais dessa mudança:
1)No início da campanha, ainda frágil nas pesquisas, evitava qualquer tipo de crítica ao PFL. Censurou publicamente sua mulher, Ruth Cardoso, que criticara ACM.
2)No início desta semana, FHC disse que os "métodos de ACM são distintos" dos seus. Para ele, o ex-governador baiano "é mais hábil e mais agressivo" do que ele.
3)FHC atribuiu a uma análise de sua autoria críticas feitas recentemente por sua mulher ao PFL. Ela chamou o PFL de "fisiológico" e disse que o partido mudou "não porque é bonzinho, mas porque perdeu poder".
4)FHC vem insistindo em dizer que não há nenhum tipo de compromisso com divisão de cargos com os partidos que integram sua coligação. Afirma que o governo é dele e escolherá quem quiser.
5)FHC prometeu dobrar o salário mínimo para R$ 140,00. Quer resgatar o discurso do PT de que o Real é bom, mas não aumentou o poder aquisitivo da população.
6)FHC reforça a proposta de que nem tudo deve ser privatizado. A Petrobrás continuaria estatal. Nas telecomunciações, há setores estratégicos, como a Embratel, que continuariam estatizados.

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