São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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Água dilui barragem-sonrisal de Maciel

LUCIO VAZ
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE (PE)

O governo de Marco Maciel em Pernambuco criou o que os sertanejos chamam de barragem "sonrisal". Feitas de pedras presas por arames (gabiões), a maioria foi destruída total ou parcialmente com as primeiras chuvas.
As 41 barragens, que custaram cerca de US$ 50 milhões, seriam o "carro-chefe" do projeto Asa Branca, desenvolvido entre 79 e 82 com o objetivo de perenizar os rios do sertão.
A Folha percorreu 1.700 quilômetros e registrou o que resta das barragens em cinco municípios do sertão. Na maioria dos casos, restam montes de pedras soltas e arames enferrujados sobre o leito de riachos quase secos.
Dez permanecem inteiras, mas 21 estão destruídas e outras dez estão danificadas.
O projeto original previa o abastecimento destas barragens de retenção (sucessivas) pelos açudes-mãe, com capacidade de até 350 milhões de metros cúbicos. Sem as pequenas barragens, há grande desperdício de água.
Como não há retenção ao longo dos riachos, apenas uma pequena parte das águas é aproveitada pelas lavouras. O resto acaba desaguando no rio São Francisco. O desperdício está secando o açude Nilo Coelho, em Terra Nova.
As regiões que seriam beneficiadas são muito secas. Mas a terra é de boa qualidade, como mostram as poucas lavouras irrigadas localizadas onde as barragens resistiram.
O arrombamento das barragens resultou de falhas no projeto técnico. Mais apropriada para a retenção de encostas, a técnica de gabião não deu certo.
As obras ficaram frágeis porque não tinham fundações e as pedras não eram presas com cimento. A fina camada de concreto, colocada na parte superior, não suportou o peso das águas nas cheias.
A maior parte das barragens também sofreu erosão subterrânea nas ombreiras (ligação da barragem com a margem do rio), igualmente feitas de pedras seguras por arames.
Em outros casos houve infiltração por baixo da taipa, devido à falta de fundações. Em consequência, as barragens tombaram sobre o leito do rio.
Os problemas começaram com as chuvas fortes de 81. Muitas barragens foram recuperadas, mas voltaram a romper em 85.
Relatório da Secretaria de Planejamento do Estado feito em julho de 81 já mostrava problemas sérios em 26 das 42 unidades.
As falhas técnicas e as críticas da oposição levaram o sucessor de Maciel, Roberto Magalhães, a abandonar o projeto. As barragens já eram chamadas de "sonrisal", porque se dissolviam com a água.
O prefeito de Parnamirim (560 km de Recife), Jeová Cabral (PSB), onde foram construídas 16 barragens, afirma que "fizeram uma obra tipicamente eleitoreira. Foi dinheiro público jogado fora".
Oito das barragens de Parnamirim foram destruídas. Outras quatro foram danificadas e tiveram que ser recuperadas.
A partir de 83, quando assumiu pela primeira vez o governo municipal, Cabral construiu mais dez barragens com nova técnica, usando concreto armado e fundações. As obras permanecem intactas.

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