São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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Moradores fazem críticas ao projeto

DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

O relato é sempre o mesmo em cada um dos municípios contemplados com as barragens "sonrisal". Os moradores afirmam que as barragens de pedras soltas não suportaram a força das águas.
"A água foi cumendo (sic) o arame e as pedras se soltaram. Não botaram foi cimento", conta Francisco dos Santos, 60, morador próximo a barragem de Corcoçó, no riacho Brígida.
Ozanan Machado, 32, trabalhou na construção da barragem de Várzea Grande, no riacho São Pedro. Ele mostra o vale que estaria coberto pelas águas. "A água comeu a terra nas beradas (sic). A barragem rompeu no meio."
Geraldo Lopes Machado, 40, pai de oito filhos, lamenta a falta da barragem. "A água de Entremontes (açude-mãe) passa direto."
Cerca de 250 quilômetros adiante, em Afogados de Ingazeira, José Lira, 86, tenta explicar por que rompeu a barragem de Santo Antonio, no rio Pajeú: "Fizeram em cima da areia".
Ex-vigia da obra, Lira acha que a barragem foi mal projetada. "O engenheiro do Recife perguntou se a água batia aqui (ele mostra o barranco do rio). Eu disse que batia lá no pé do alto. Ele fez aqui. A água cobriu tudo e levou a barragem."
A barragem de Pacus é a única que sobrevive no rio Pajeú. Outras quatro estão destruídas. Mas José Oliveira, 44, avisa que Pacus não vai resistir: "O arame está torado e as pedras estão caindo."
No município de Floresta, os agricultores sentem a falta da barragem de Várzea Comprida, rompida em 81. Pedro de Sá, 56, e Manoel Argelino, 63, tentam improvisar uma barragem com sacos de areia. Mas a água é insuficiente para irrigar as plantações de melão e melancia.
Argelino conta como a barragem rompeu: "A água foi demais. Foi comendo a terra, fez uma banda e rompeu".

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