São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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GM deve instalar fábrica em Minas

MARCELO MENDONÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há dois meses, durante a Copa do Mundo, a General Motors do Brasil apresentou à GM Corporation, com sede em Detroit (EUA) a escolha preliminar de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, para instalar a terceira fábrica de automóveis da empresa no país.
A decisão estava condicionada à duplicação da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas. Doze Estados, inclusive São Paulo e Rio de Janeiro, disputam esse investimento de mais de US$ 250 milhões, que deve gerar 2.000 empregos diretos.
O anúncio oficial da nova fábrica está marcado para depois do primeiro turno da eleição, segundo a assessoria de imprensa da GM. O diretor de Assuntos Corporativos, José Carlos Pinheiro Neto, diz que isso é para evitar eventuais explorações eleitorais do projeto e que o local ainda não foi escolhido.
A larga vantagem que Luiz Inácio Lula da Silva desfrutava em junho na corrida presidencial preocupou a GM Corporation e colocou em risco esse investimento internacional no país.
A "Corporation", como é chamada pelos executivos brasileiros da GM, queria esperar o resultado da eleição presidencial para bater o martelo sobre a instalação da fábrica.
A decisão frustrou a GM do Brasil –presidida por Mark Hogan–, que há mais de um ano desenvolve o projeto com entusiasmo. Em junho, Lula tinha 22 pontos percentuais de vantagem sobre Fernando Henrique Cardoso (41% a 19%) na pesquisa do Datafolha.
Hoje o quadro é outro: FHC está 7 pontos à frente de um Lula em curva descendente (36% a 29%), segundo o Datafolha–, e a GM do Brasil afirma que o processo de decisão sobre a fábrica independe "de quem venha a ser o próximo presidente", diz Pinheiro Neto.
Segundo ele, a decisão de instalar a terceira fábrica "está praticamente tomada" e sua instalação "é irreversível", tendo em vista que a "única limitação que a GM do Brasil tem hoje é a capacidade de produção".
"Houve uma decisão muito firme nesse sentido –não uma decisão, uma posição– da GM de não alterarmos o programa de investimento por causa da vitória de um ou de outro" candidato, disse o diretor da empresa.
Doze Estados estão disputando a fábrica: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Ceará.
Segundo Pinheiro Neto, o principal critério para a escolha do local "é a comunidade receber bem uma fábrica de automóveis".
Na área estadual, segundo ele, o incentivo fiscal é basicamente a prorrogação do prazo para recolhimento do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e, junto com o município, fornecer a infra-estrutura necessária, como água e energia elétrica.
Segundo o diretor, a GM tem área suficente junto à fábrica de São José dos Campos (SP) para instalar a nova unidade, mas tem "um relacionamento sindical desfavorável" na região, devido à "facção Convergência Socialista" na diretoria do sindicato dos metalúrgicos.
"Estou falando pela primeira vez isso abertamente: o relacionamento não é bom, e não só da parte do sindicato, é nosso também", disse Pinheiro Neto. Segundo ele, se não houvesse esse problema não haveria porque não instalar a terceira unidade em São José dos Campos.
Dejair Losnak Filho, diretor do sindicato, diz que o relacionamento com a GM nunca esteve tão bom como agora, e que várias "correntes ideológicas" convivem no sindicato.
"Quem decide são os trabalhadores", diz Losnak. Segundo ele, as queixas da GM sobre o relacionamento sindical é "instrumento de barganha" para conseguir maiores vantagens dos Estados para a instalação da fábrica.
Pinheiro Neto disse que não houve "censura prévia" na escolha do local. "Todos que nos convidaram nós visitamos", afirmou o diretor, para quem o local ainda não está decidido.
O diretor da GM fez vários elogios aos portos de Suape (Pernambuco) e de Imbituba (Santa Catarina). "Mas a grande alternativa ao porto de Santos é Santos", brincou.

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