São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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É falta; cuidado, é Neto quem vai bater

MARCELO FROMER ; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O atacante Romário continua nos dando suas grandes lições de falta de humildade. Chega a ser curioso ver quanta arrogância cabe em apenas 1,68 m.
Com esses poucos centímetros empilhados, o genial falastrão de Vila da Penha, depois de já ter sibilado suas pequenas injúrias contra o rei Pelé, contra o incomparável Zico, depois de suas desavenças com Muller, do São Paulo e depois de atirar suas farpas atarracadas contra Telê Santana, o nosso pequenino grão anda, literalmente, dando férias para os seus pés, dando as costas para o seu clube, o Barcelona da Espanha.
E num revelador anúncio de chinelos de plástico, o nosso minúsculo garoto-propaganda cita um texto trazendo para si as glórias da eliminação de nossos adversários no Mundial dos EUA.
Parece que para o apoucado Romário a conquista da Copa do Mundo dos Estados Unidos foi um feito pessoal seu e não resultado de um trabalho de equipe.
Mas tudo isso serve para falarmos da volta para São Paulo de um polêmico reforço contratado por uma grande equipe para esse Brasileiraço (Brasileirão é coisa do passado).
Estamos falando de Neto. Este sim um baluarte da indisciplina dentro dos campos.
Na realidade, a indisciplina dentro do futebol nada mais é que um ingrediente a mais no prato do faminto torcedor.
E dos males do futebol, convenhamos, este tem mais charme do que uma simples botinada ou agressões descabidas entre jogadores.
Mas não cabe a nós exatamente julgar essas atitudes do ponto de vista punitivo. Para isso deveriam existir órgãos competentes.
Não é difícil encontrar na indisciplina um sabor especial: jogador que nunca cometeu uma indisciplina nem sequer pode sofrer de arrependimento tardio.
A paixão excessiva de quem veste uma camisa de um clube ou seleção é por vezes irmã da indisciplina, e é natural que as vejamos, às vezes, de mãos dadas.
Assim foi o grande César, irmão de Luisinho e Caio Cambalhota. O legendário Serginho Chulapa seja louvado, e a canelada naquele bandeirinha deve estar imortalizada numa cicatriz.
E que volte Neto, nosso homenageado de hoje, e que a torcida santista o receba de braços abertos. Se ele cuspiu em alguém algum dia, este é um problema dele e do homem em quem cuspiu.
Neto se tornou imortal em pleno Mário Filho, quando fez um dos mais belos gols de falta de que se tem notícia.
Neto tem a coragem e a garra dos indisciplinados. E desta vez os santistas devem acreditar que ele não irá deixar esta grande chance lhe escapar.
Afinal, seu futebol é bem superior ao seu desajuste temperamental. E jogar no Santos deve ser uma honra para qualquer jogador que não cospe no prato em que come.

MARCELO FROMER e NANDO REIS são músicos da banda Titãs

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