São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lances antológicos salvam primeira rodada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Esta fase do Campeonato Brasileiro não vale nada. É daqueles cursos longos, inúteis, cansativos, ao fim dos quais salvam-se todos –vivos e mortos.
Por isso, essa primeira rodada nada valeu, a não ser dois lances antológicos. O primeiro deles, no sábado, no enjoativo empate do Corinthians com o Criciúma, lá em Santa Catarina. Foi quando Marcelinho perpetrou um gol olímpico claro, direto, nítido.
Trata-se de uma jogada que exige extrema perícia do cobrador, um domínio único da arte de bater na bola, provocando-lhe tal efeito que ela haverá de obedecer um percurso que contraria a lei das probabilidades. Na hora, lembrei-me de uma brincadeira que anos atrás o zagueiro e lateral Bezerra fazia em dias de treino no Morumbi. Ele colocava a bola além da linha da fundo, e posicionava-se de frente à ela. Recuava até dois degraus abaixo da escada que dá aos vestiários. Subia, batia de tal forma na bola com o pé esquerdo que ela praticamente fazia uma curva de 180 graus e morria nas redes.
Pois Marcelinho, no sábado, quase chegou a essa perfeição. Pelo menos repetiu o célebre gol do uruguaio Garcia, que na Olimpíada de 24 –segundo relatam os antigos– batizou essa cobrança.
É bem verdade que o Corinthians não jogou nada e acabou empatando por 1 a 1, num jogo enfadonho, em que nem mesmo Viola deu o colorido habitual. E o pior é que o técnico Jair Pereira anunciou de cara a morte do espetáculo, ao escalar seu time com cinco homens de meio-campo, excluindo Marques do ataque. Será a síndrome da Copa do Mundo?

O outro lance não foi um apenas, mas vários. Quase todos que Edmundo desenvolveu na goleada sobre o Paraná. Sim, porque se o jogo se arrastou maçante ao longo de quase todos os 90 minutos, os breves instantes em que a bola esteve sob os pés de Edmundo foram um resgate do futebol. Pena que não tenha feito o seu, mas serviu seus companheiros com a gentileza de um cavalheiro, o que não lhe é peculiar, convenhamos.
O Palmeiras, aliás, também não jogou bem. Parece que a saída de Edílson e a entrada de Rivaldo haverá de exigir um empenho muito maior do treinador Luxemburgo para reatar os laços desatados desse time, que vinha jogando junto há tanto tempo. Isso porque Edílson tem um estilo absolutamente inverso de Rivaldo. É destro, pequenino, rápido, habilidoso e veloz. Rivaldo é alto, canhoto, lento e exige um espaço até agora ocupado por Zinho. O próprio Zinho, por sinal, ontem deu mostras de que se desorientou em campo, ao buscar o lado direito para criar suas jogadas. Por ali, ele se revelou canhestro, desambientado, incomodado mesmo. Claro, pois canhoto como é, ao descair pela direita, entorta sua visão e seu jogo.
Por seu lado, Rivaldo sentia-se como um intruso no time do Palmeiras, e cumpriu um papel secundário, mero coadjuvante, sem brilho nem eficiência.
Mesmo assim, o Palmeiras disparou uma goleada que poderia ter sido ampliada, caso Edmundo, Evair, Zinho e o próprio Rivaldo não desperdiçassem mais umas quatro chances de gols, no mínimo.
Mas, se quiser voltar a ser o mesmo, terá de reajustar o meio-campo e o ataque, ajustando Rivaldo.

Texto Anterior: PALMEIRAS
Próximo Texto: Zinho festeja nova tática e primeiro filho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.