São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Itamar no país das maravilhas

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Na sua ofensiva contra Fernando Henrique Cardoso, o PT resolveu bater na propaganda do governo sobre o Plano Real, acusando-a de instrumento de campanha. Não vou, aqui, deter-me sobre a polêmica eleitoral. Prefiro me fixar num ponto: além de um bom exemplo de como desperdiçar dinheiro público, é uma estupidez.
Num anúncio patrocinado pelos Correios, alardeia-se que, agora, os brasileiros clandestinos ou subempregados no Exterior já podem voltar para o país. É focalizada a cara de um engraxate em Nova York. Tudo graças ao real.
Estupidez nº 1: é uma mentira. A taxa de desemprego continua, até aqui, inalterada.
Estupidez nº 2: mesmo que didática, a campanha já seria um desperdício. A imprensa realiza diariamente um completo serviço de esclarecimento através de seu noticiário. Os repórteres de TV estimulam as donas-de-casa a não comprarem, denunciam abusos de preços, ensinam as novas regras, e por aí vai.
Todos os conselhos e dicas do governo são divulgados gratuitamente. As aparições e pronunciamentos do ministro Rubens Ricupero ganham amplo destaque.
Natural que, diante dessa evidência, o PT tenha justificadas razões para enxergar por trás da badalação publicitária um esforço para ajudar Fernando Henrique. Lula chega acusar uma "campanha subliminar". Segundo ele, a voz do locutor do anúncio do engraxate em Nova York é a mesma do programa eleitoral de Fernando Henrique Cardoso.
Se o governo está com uma incontrolável vontade de gastar dinheiro em publicidade, há idéias mais produtivas. Muito melhor se tentassem consertar algo que ele próprio agravou, ao destroçar as verbas para a saúde: uma ampla campanha para prevenir contra mortalidade infantil que, como todos sabem, está crescendo em especial no Nordeste.
PS – Aliás, deve ser extremamente interessante a reação dos pais que perderam o filho por falta de alimento e remédios em postos de saúde diante do anúncio dos Correios. Eles devem se sentir reconfortados ao saberem que, enfim, o engraxate brasileiro clandestino em Nova York já pode voltar feliz ao Brasil.

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