São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 1994
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A reviravolta

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Um diplomata estrangeiro tentava entender a súbita reviravolta que acaba de ocorrer na intenção de voto para presidente da República.
Acostumado a acompanhar campanhas com variações paulatinas ao longo de meses, ele não conseguia compreender como em pouco mais de 30 dias Lula caiu de 38% para 29% -ou seja, perdeu quase um quarto do seu eleitorado- enquanto FHC pulou de 21% para 36% -praticamente dobrando o seu.
Não há dúvida de que o grande desestabilizador da campanha de Lula e propulsor da de FHC foi o Plano Real, que criou um ambiente de estabilidade.
A candidatura de Lula cresceu meses seguidos enquanto o país parecia não ver saída para a aguda crise econômica que se expressava atravé de inflação alta, desemprego e recessão.
Lula representava até aquele momento a aposta numa experiência nova e com forte dose de compromisso social. O Plano Real instaurou o pragmatismo.
Mas se é assim, se o Plano Real é realmente sólido e redentor, se é a luz no fim do túnel, por que a preocupação tão grande na campanha de Fernando Henrique em se precaver contra nova reviravolta eleitoral?
Porque praticamente todas as eleições deste período de transição mostraram que não há posição eleitoral antecipadamente solidificada.
E mostraram também que a lógica do voto se altera muito rapidamente, atropelando o que um minuto atrás era consenso e sepultando estratégias que pareciam infalíveis.
Como as campanhas não estão enraizadas em partidos, idéias, programas e passados, mas em pessoas, marketing, slogans e promessas, estão todos os candidatos sujeitos às mudanças abruptas do humor do eleitorado.
O Plano Real pode ter acabado com Lula, mas ainda não é suficiente para garantir FHC. Tal como o PT brandia há mês e meio atrás, o PSDB tenta fazer crer que pode vencer no primeiro turno.
Poder, até pode. Numa eleição desta, tudo pode acontecer. Mas ainda tem mês e meio pela frente.

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