São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
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EUA não aceitam mais cubanos

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Os Estados Unidos reverteram ontem uma política de quase 30 anos de tratamento especial a refugiados do governo comunista de Cuba e anunciaram que vão interceptar e deter os cubanos que tentarem entrar no país.
A Guarda Costeira e a Marinha dos EUA receberam ordens para recolher barcos com refugiados no litoral da Flórida e levá-los à base norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
A decisão, anunciada ontem pelo presidente Bill Clinton, visa interromper o êxodo de dissidentes cubanos em direção aos EUA.
Desde o início do mês, cerca de 2.700 cubanos desembarcaram na Flórida.
"Refugiados ilegais de Cuba não serão mais automaticamente aceitos como imigrantes nos EUA", disse Clinton, que completou 48 anos ontem.
A Casa Branca considera que a decisão deve "desmagnetizar" os EUA em relação aos cubanos.
Cerca de 350 refugiados cubanos que chegavam ontem ao litoral de Key West, Flórida, já foram detidos por causa da nova decisão.
Desde 1966, os EUA adotavam como política acolher todos os dissidentes do regime de Fidel Castro. A maioria era assentada na Flórida, muitas vezes com familiares, ou em outros Estados do país.
A partir da decisão de ontem, os cubanos passam a receber o mesmo tratamento dado aos haitianos, por exemplo.
Os cubanos interceptados durante a travessia de 150 km entre Cuba e a Flórida ficarão detidos "para avaliação" junto com mais de 14 mil refugiados políticos do Haiti na base de Guantánamo.
Dezenas de cubanos e grupos de direitos humanos protestaram ontem na Flórida contra a guinada na política norte-americana.
Os dissidentes que conseguirem ultrapassar a vigilância norte-americana e alcançarem a Flórida não serão detidos e poderão imigrar depois de passarem por entrevistas mais rigorosas e exames médicos.
Muitos barcos usados para interceptar traficantes no litoral da Flórida ou para fazer valer o embargo em vigor contra o Haiti receberam ordens ontem para começar a recolher os cubanos no mar.
O presidente Clinton relacionou a chegada de milhares de cubanos aos EUA nos últimos dias com uma situação vivida em 1980, quando 125 mil refugiados entraram no país em cinco meses.
"Isso não vai acontecer de novo", disse Clinton. Para o presidente norte-americano, Fidel Castro estaria usando uma "política de sangue-frio para manter-se no poder" ao permitir a saída descontrolada de dissidentes da ilha.

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