São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Governo aponta ameaça de tumulto na campanha e espiona sindicatos

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) está executando uma ampla operação de espionagem em sindicatos, baseada na suspeita de que grupos radicais da CUT e do PT tentam radicalizar greves e mudar o cenário eleitoral, desfavorável a Luiz Inácio Lula da Silva.
Em Brasília e vários Estados como São Paulo, Rio, Minas Gerais e Bahia foram designados agentes para acompanhar debates internos dos sindicatos dos bancários e petroleiros, ligados à CUT.
A ordem é descobrir até que ponto os "radicais" pretendem provocar tumultos ou radicalizar as reivindicações salariais previstas para o próximo mês. Relatórios parciais já foram enviados ao presidente Itamar Franco.
Essas "radicalizações" afetariam, na visão da SAE, áreas estratégicas como o petróleo. A avaliação é que os "radicais" estariam dispostos a gestos de desespero, provocados pela queda contínua de Lula nas pesquisas.
Essa é a justificativa para a realização da cobertura dos sindicatos dos bancários e petroleiros.
Parlamentares do PT já receberam dicas da espionagem. Foram produzidos informes de que a ala moderada do partido tenta acalmar setores da CUT, dipostos a propor a greve, aproveitando para criar um fato novo nas eleições.
O clima de greve serviria para denunciar o que eles classificam de "arrocho" do Plano Real.
Há grupos mais à "esquerda" no PT considerando a linguagem de Lula excessivamente moderada e defendendo que se eleve o tom no ataque ao Plano Real e a Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, tem conversado com essas lideranças, argumentando que uma onda grevista produziria mais prejuízos do que benefícios à candidatura de Lula.
No alto comando da candidatura FHC é realizado também um acompanhamento do que se batizou de "setembro negro". Avalia-se que os moderados se esforçam para evitar tumultos, mas que os radicais podem fugir de controle –a mesma visão da SAE.
Eles se preparam para atacar as greves, apontando-as como boicote. Discretamente, até torcem pelas paralisações, que, em sua visão, desgastariam Lula e facilitariam uma vitória já no primeiro turno.

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