São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Salgadinho 'informal' vende 38 mil t

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Os executivos da Elma Chips, braço do grupo Pepsico, acabam de topar com um desses mistérios do mercado brasileiro.
Interessada em explorar novos nichos de venda para seus salgadinhos, a empresa encomendou uma avaliação do potencial do consumo nacional à consultoria Booz Allen.
Sabia-se por levantamentos do instituto Nielsen que os brasileiros vinham consumindo 47 mil toneladas anuais desse tipo de produto em 360 mil pontos de venda, de bares a supermercados.
Ao vasculhar feiras-livres, camelódromos e outros canais alternativos de distribuição, os pesquisadores da Booz Allen constataram a existência de um mercado subterrâneo quase do tamanho do oficial.
Dele participam mais de 800 marcas de salgadinhos, boa parte produzida clandestinamente em fábricas de fundo de quintal, com volumes que elevam o real mercado brasileiro ao patamar de 85 mil toneladas anuais.
Trata-se de um filão atraente em termos de tonelagens vendidas, mas nem tanto em faturamento. São pacotes com preço abaixo de R$ 0,50, consumidos por crianças de famílias de baixa renda (C,D e E).
Calcula-se que as cerca de 30 mil toneladas anuais vendidas para o público D e E geram uma receita de US$ 40 milhões, quatro vezes menor que a proporcionada por igual volume consumido pelas classe A e B.
São crianças e jovens com renda para pagar na faixa de R$ 1 o pacote de um produto com qualidade sob controle e marca reconhecida dos comerciais na TV.
"Ocorre no mercado de salgadinhos fenômeno semelhante ao de outros setores", diz David Palfenier, diretor de marketing da Elma Chips, que já estuda testar marcas de menor preço junto aos consumidores de baixa renda.
Tão surpreendente quanto escavar os números desse mercado informal foi verificar que até mesmo o potencial na faixa superior está longe de atingir a saturação.
"O consumo per capita, de 600 gramas anuais, é inferior ao do Chile (1 kg) e do México (1,6 kg) e não tem paralelo com o dos EUA (9 kg)", afirma Palfenier.
As perspectivas, porém, são promissoras. A mudança da moeda derrubou, no mês passado, as gôndolas de margarinas e carnes congeladas, mas não as de salgadinhos, cujos volumes cresceram 8% nas principais redes de supermercados da Grande São Paulo, de acordo com a Nielsen.
Em julho, a Elma Chips cruzou a marca recordista de 1 milhão de unidades comercializadas. Campeã de oito marcas, a batata frita "Ruffles", contribuiu com percentual acima de 25% das vendas, segundo o executivo.
Confiante nesse desempenho, a empresa prepara uma estratégia capaz de dobrar, em seis anos, os volumes comercializados junto aos consumidores situados no topo da pirâmide de renda, segmento que a Elma Chips domina com 40% das vendas.
"Sem abandonar as crianças, nosso alvo será o mercado "teen"', diz Palfenier.
Bastou injetar gás na campanha de TV da batata "Ruffles" iniciada no Carnaval e dirigida a esse público para que as vendas explodissem –em julho foram 63% superiores às de igual mês de 1993.
A empresa programa três lançamentos ainda neste semestre. "Dois deles são sucesso de venda nos 33 países em que a Pepsico atua, não têm similares no país e sua produção emprega uma nova tecnologia", revela o diretor de marketing.

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