São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Candidatos oferecem mundo sem pecado

MARCELO PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nem para zapear o horário eleitoral gratuito serve. O que está no ar? Uma quantidade infindável de candidatos que dizem pertencer a tal e tal Igreja, e que estão com Deus e com o seu voto: pastores, fiéis, coroinhas, eclesiásticos, batistas e evangélicos.
Assim pronunciam: "Deus é testemunha de minha honestidade e capacidade. Deus está ao meu lado, membro invisível do partido. Sou pastor de Jesus, rezo muitas vezes ao dia, frequento o templo. Vote em mim e levarei o Senhor dos céus para a bancada".
O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) não se pronunciou a respeito.
Um outro número considerável de candidatos foram ou são da tropa. Ex-policiais, delegados, promotores, sargentos, tenentes, coronéis que oferecem segurança em troca do seu voto.
Prometem acabar com a violência, com os bandidos, limpar as ruas, encher as cadeias. Contam casos (boletins de ocorrência?): "enfrentei tantos marginais. Houve troca de tiros. Feri dois ou três elementos. Vote em mim".
Muitos homens de bem, de boa e numerosa família, letrados, como num comício nazi-fascista, vozeiam: mo-ra-li-za-ção, com-pe-tên-cia, con-fi-an-ça, se-gu-ran-ça. O que aconteceu ao Brasil?
Imagine um estranho no ninho: "um computador no shopping me disse que sou virgem, ascendente em sagitário, lua em peixes. Acho esse negócio de Deus, pecado, milagre, complicado. Vi um duende uma vez, mas achei que era efeito do ácido. Comecei com baseado. Passei pela cocaína, mas larguei porque andava me fazendo mal. Além do que, não acho graça no barato da cocaína; prefiro o meu baseadinho".
"Já levei um monte de batidas e, uma vez, na Praia Grande quase fui preso porque um chegado estava dirigindo sem carteira. Minha mina já fez três abortos. A irmã dela não me dá mole, quer que quer, e às vezes eu transo com ela. Teve um dia que as duas quiseram transar comigo. Pulei fora e acho que vou ficar solteiro por um tempo e zoar com os amigos."
"Acho dançar da hora e saio na Gaviões. Este boné foi um aplique que dei num boyzinho. Gosto da lasanha que minha mãe faz, e não gosto quando meu pai chega em casa trincado. Ano que vem eu arrumo um trampo na prefeitura; um chegado está vendo isso pra mim. Ah, já ia me esquecendo. Vote em mim. Aí, não preciso do trampo."

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