São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 1994
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Primal Scream investe na imagem "junkie"

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Bobby Gillespie, vovalista do grupo inglês Primal Scream, escorre, derrete, baba, balbucia. "Não me sinto muito bem, cara", confessa à Folha, chapado, por telefone, de Londres, respirando pesadamente.
Por afetação ou folclore, o vocalista do grupo Primal Scream investe na fama de "junkie".
O objetivo do Primal Scream parece ser um capítulo especial na próxima publicação sensacionalista sobre os excessos do rock. A carta de intenção veio com a escolha de uma foto de Keith Moon, o "junkie" e morto baterista do The Who, como peça publicitária do novo disco da banda, "Give Out But Don't Give Up".
Este ano, o tecladista Martin Duffy esteve à beira da morte. Foi esfaqueado e sangrou durante horas, só percebendo quando seus companheiros de banda viram o sangue. Durante show na Suécia, o guitarrista Robert "Throbert" Young desmaiou no palco. Posteriormente, na turnê americana com o Depeche Mode, foi acusado de "intoxicação pública" pela polícia do Texas.
Todas as histórias de drogas do Primal Scream são verdadeiras ou produto de um estranho senso de "hype"? "São verdadeiras", garante Bobby, com arrastado sotaque escocês. "Mas eu prefiro falar sobre música."
A banda acaba de musicar um documentário sobre a seleção brasileira de futebol de 1970, chamado "Goal", para a BBC. "Pelé, Jairzinho, Tostão, Felix", Bobby cita a escalação do "dream team" brasileiro. "Gosto de futebol, mas a última Copa foi muito ruim, apesar de o Brasil ter ganho."
O novo álbum do grupo, "Give Out But Don't Give Up" traz participação do lendário artista funk George Clinton, mentor dos influentes grupos Funkadelic, Parliament e P-Funk. "Nós o convidamos, mandamos uma fita com as músicas e entramos em estúdio", Bobby resume a história. "Ele parece ter se divertido."
Os discos do Primal Scream são completamente diferentes entre si. Mas a maioria das críticas sobre o novo álbum lamentou o abandono do estilo dançante do LP anterior, "Screamadelica". "As pessoas que escrevem isso nem gostam de dance music, em primeiro lugar. Os olhos da imprensa tendem a se fixar em modas. Mas eu não dou a mínima. Só quero tocar pesado."
As respostas vão ficando cada vez mais curtas e vagas. "Por que gravamos o disco em Memphis? Não sei, realmente." A turnê com o Depeche Mode? "Tediosa."
No final dos anos 80, quando ainda se dividia entre o microfone do Primal Scream e a bateria do Jesus and Mary Chain, Bobby Gillespie costumava ser um grande falador. Não perdia a chance de dar sua versão enciclopédica do que era "cool" na música pop, sonhando em ser um "rock star". Ele diz que ainda não vive como os ídolos de sua adolescência. "Acho que não", ri, confessando-se um grande fã dos Rolling Stones, com quem Primal Scream tem sido comparado.
Primal Scream parece disputar um campeonato particular com a lenda dos Rolling Stones à época de "Exile on Main Street". O guitarrista Innes chegou a dizer, nos EUA, que River Phoenix é peso leve comparado à dieta da banda.
Bobby pede um tempo (o segundo, durante a entrevista) e, ao voltar, despede-se: "Estou viajando, 'man'. Não estou bem. Preciso vomitar."

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